Crise entre Rússia e Ucrânia indica fim de ciclo tecnológico, afirma especialista
Para o professor Paulo Vicente Alvas, "não há precedente histórico de uma tomada de território tão rápida"
Foto: Reprodução
Secretário de Estado de Planejamento e Gestão do Rio de Janeiro (Seplag-RJ) e capitão do Exército Brasileiro de 1990 a 2002, o professor Paulo Vicente dos Santos Alvas, da Fundação Cabral, concedeu entrevista ao portal Seja Relevante sobre a atual crise envolvendo a Rússia e a Ucrânia.
Segundo o professor, o confronto indica o fim de um ciclo da tecnologia, e tanto russos quanto ucranianos "sabem que essa guerra vai se estender por semanas ou meses". "E isso mesmo com a Rússia tendo levado 80% da sua força militar para a Ucrânia. Não há precedente histórico de uma tomada de território tão rápida, ainda mais em um país grande, como a Ucrânia, cujo território se assemelha ao da França, por exemplo", disse.
Do seu ponto de vista sobre o fim de um ciclo tecnológico, ele relata que a "Europa e os Estados Unidos querem se livrar da dependência de óleo e gás da Rússia e do Oriente Médio". "E a aposta são os combustíveis renováveis. Existe a fachada ambiental, que é bastante real, inclusive com incentivos para reduzir a pegada de carbono, etc. Mas também existem os interesses geopolíticos e econômicos", destacou.
"As tecnologias renováveis ainda vão levar de 10 a 20 anos para se consolidar e, enquanto isso, é preciso ter fases intermediárias. No caso dos Estados Unidos, investiu-se no gás de xisto, passando para a energia solar em terra, antes de avançarmos para a exploração solar em órbita estacionária, com a energia sendo enviada via laser ou por micro-ondas. Isso vai levar tempo. Os chineses estão apostando nisso também. No caso dos russos, a corrida é menor, mesmo porque eles têm o óleo e o gás, cujo maior cliente é a Europa", acrescentou.
Ele também comentou sobre a percepção de que o presidente russo, Vladimir Putin, estaria de fato preocupado com a expansão da OTAN. "Muita gente diz que a Rússia tornou-se um estado petrolífero: quando o petróleo está em alta, eles se acham mais fortes. É fato que Putin está preocupado com a expansão da OTAN e que sabe que, se os vizinhos forem devolver o que os russos fizeram ao longo dos anos, a vingança será grande. Putin pode estar aproveitando essa alta do petróleo, quando está mais forte, para tentar tomar as áreas de surpresa, como fez na Criméia. Dessa vez os americanos gritaram, mas ele insiste em desfazer o que foi feito em termos de acordos nos últimos 30 anos, e que moldaram uma OTAN mais forte. Ele também fala para o público dele, interno", disse Paulo Vicente.