Dia da Favela: Conheça a origem da data e saiba como as comunidades resignificam suas vivências
Levantamento do IBGE apontou que em Salvador existem 270 favelas
Foto: Reprodução/ OqueFazerNa
O dia 4 de novembro foi oficialmente instituído como o Dia da Favela no ano de 1990, quando o então delegado da 10° Circunscrição e chefe da polícia do Rio de Janeiro, Enéas Galvão, se referiu ao Morro da Providência como favela pela primeira vez. O chefe chegou a citar que no local moravam ''pessoas faveladas'', nome que surgiu durante a Guerra de canudos na Bahia, quando os soldados eram chamados assim por terem sido marcados pela planta ''favela'', bastante comum no sertão nordestino. Na época, essa associação era feita com o significado de "lugar sujo e de gente imoral''. Com o passar dos anos, o nome foi significado, mas ainda assim, há quem cite com certo preconceito.
Morro da Providência - Reprodução/ Voz das Comunidades
De acordo com o último levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), atualmente existem 270 favelas em Salvador, capital baiana, que é seguida por números absolutos em Feira de Santana, com 65 favelas e Itabuna com 40.
Dentre as favelas baianas, algumas das mais populosas são o Nordeste de Amaralina com aproximadamente 80 mil habitantes, Valéria com 21.264 mil, Nova Sussuarana com 20.337 mil, Nova Constituinte com 20.302 mil, Fazenda Grande do Retiro com 20.254 mil, Bairro da Paz com 20.231 mil e Tancredo Neves com 18.874 mil habitantes.
A presidente nacional da Central Única das Favelas (Cufa), Kalyne Lima, lembra que, mais do que comemoração, o dia é marcado por reflexão sobre os problemas enfrentados pelos moradores desses territórios e sobre a potência presente neles.
“A favela é um território muito fértil de valores. Valores humanos, valores de solidariedade, de união, e a gente compreende que essa corrente é a nossa principal tecnologia social, é a nossa principal estratégia de luta, de resistência, né? Hoje temos essa celebração, essa pauta, essa reflexão sobre esse território que é tão importante na geração da economia desse país. São mais de R$ 119 bilhões gerados por essa população através do seu trabalho, do seu esforço e da sua dignidade, através de tudo que proporciona para esses territórios e suas famílias” diz
Ainda de acordo com ela, existem no Brasil mais de 14 milhões de pessoas morando em favelas. Em 2019, o levantamento do IBGE apontou que haviam 5,1 milhões de domicílios em 13.151 mil aglomerados subnormais no país, localizados em 734 municípios, em todos os estados e no Distrito Federal. Em 2010, havia 3,2 milhões de domicílios em 6.329 aglomerados subnormais, em 323 cidades, segundo o último Censo Demográfico.
Resignificando os estereótipos
É comum que nos noticiários as favelas sejam retratadas como locais perigosos e com alto índice de violência. As operações policiais costumam levantar números altos nas audiências televisivas, e os moradores são vítimas constantes do preconceito. Pensando nisso, no Nordeste de Amaralina, um casal resolveu fundar o projeto ''O Que Fazer no Nordeste'', que já acumula mais de 12 mil seguidores nas redes sociais.
Dener dos Anjos e Aylana Ramos - Reprodução/ OqueFazerNa
Dener dos Anjos de 28 anos e Aylana Ramos de 23, foram os pioneiros de um projeto, que nasceu de um sonho em 2019, e hoje se transformou em uma das principais mídias comunitárias do bairro, com o objetivo de contar a história da comunidade do ponto de vista dos próprios moradores, enaltecendo a arte e a cultura que é bastante presente o local.
''Eu creio que não existe em Salvador uma comunidade tão pertencida, tão rica em cultura e entretenimento como o Nordeste de Amaralina. Aqui é um bairro com um potencial gigantesco de crescimento, tanto econômico como estrutural. Então sentimos falta dessa representatividade que não tínhamos, e fomos em busca de capacitação para agregar valor ao bairro'', contou Dener.
Nordeste de Amaralia e Parque da Cidade - Reprodução/ OqueFazerNa
Desde a sua fundação, o projeto já favoreceu os moradores de diversas formas, como com o fornecimento de cestas básicas a famílias de áreas mais carentes, desenvolvimento e aplicação de cursos gratuitos e destaque para os comerciantes da região.
No instagram (@Oquefaerna), a mídia mostra diariamente o cotidiano do bairro, fortalecendo o comércio local, denunciando as insalubridades e se posicionando a respeito de questões como a violência policial.
''Nós buscamos tirar o lado positivo de tudo que vivemos aqui. Hoje carregamos a essência de conhecer o morador indo diretamente na casa dele. Contamos as histórias dos inspiradoras dos empreendedores, e celebramos as conquistas dos voluntários que já passaram pelo projeto e continuam se sentindo representados'', afirmou.
Em relação a data comemorativa, Dener reforça que pensa no seu cotidiano todos os dias e enaltece a importância da comunicação comunitária.
''Todo dia eu penso na comunidade, todo dia eu dedico parte do meu dia a comunicação comunitária. Tudo que eu penso em fazer não é só pra mim, mas para todas as pessoas que estão ao meu redor e que fazem parte do Nordeste de Amaralina'', disse.