Dia Nacional do Livro: Jovens ressignificam práticas de leitura na era digital
Livros digitais e redes sociais impulsionam uma nova era de leitura no país
Foto: Reprodução/ site Desancorando
No dia 29 de outubro, é comemorado o Dia Nacional Do Livro, objeto protagonista na vida de muitos brasileiros. O hábito da leitura, apesar de resistir às mudanças na sociedade, se modifica e tem se reinventado. Nos últimos anos, novas formas de consumir e se relacionar com a leitura cresceram no país.
Uma das transformações é a ascensão dos livros digitais, que apesar de representarem apenas 6% do mercado editorial brasileiro, demonstraram um crescimento no faturamento de 35% em 2022, segundo pesquisa da Nielsen BookData em parceria com o Sindicato Nacional dos Editores de Livros e com a Câmara Brasileira do Livro.
Outro levantamento da Nielsen revela que foram vendidos aproximadamente 8,7 milhões de e-books e audiolivros em 2020, em comparação a 4,7 milhões em 2019, um aumento de 81%.
Sofia Santos, 24 anos, adquiriu o hábito do ler no meio digital em 2020 e lê livros eletrônicos através do Kindle - aparelho de leitura da Amazon. A jovem, que também é escritora, alterna entre os dois tipos de leitura. Porém, o Kindle se torna uma opção mais prática durante seu dia a dia.
“Eu leio mais no digital. Quando tenho muito tempo sem ler, retorno ao livro físico, para me conectar mais. Mas o kindle tá sempre comigo, em todos os lugares. Ele já faz parte de mim”, afirmou.
Leitores conectados
As redes sociais, antes vistas como vilãs, hoje ganham uma nova interface entre os jovens. A internet se tornou um ambiente de discussão sobre leitura e tem contribuído para o incentivo deste hábito.
Diversos criadores de conteúdo utilizam as redes para dividir experiências literárias com os seguidores. A exemplo de Renata Pinheiro, 29 anos, que é dona do perfil do Instagram @digaileitoresblog. O perfil, criado há 7 anos, conta com mais de 95 mil seguidores. A leitora publica resenhas, indicações e dicas sobre o universo literário.
“Meu perfil surgiu da minha demanda pessoal, eu leio dede os 7 anos e não tinha com quem falar sobre o que eu lia. Em 2016 eu comecei a postar opiniões sobre livros no meu perfil pessoal. Fui fazendo isso e através das hashtags várias pessoas começaram a me seguir”, afirmou a criadora de conteúdo.
Outro perfil soteropolitano é o @bbibibooks, criado por Brighite Oliveira, 27 anos, que começou a compartilhar as leituras no ano passado e já conquistou 12 mil seguidores no Instagram. Ela ainda percebeu um aumento no interesse pela leitura nos últimos anos.
“Estamos vendo um aumento de pessoas se interessando pela literatura. O papel dos influenciadores é estimular os leitores, por mais que eu não goste de um livro, eu sempre reforço que a leitura é individual e incentivo todos a lerem”, disse a influenciadora.
A comunidade leitora também tem ocupado um espaço significativo no TikTok, rede social chinesa conhecida por seus vídeos curtos. A hashtag BookTok, destinada a conteúdos sobre livros, alcançou mais de 180 bilhões de visualizações na plataforma.
O presidente da rede de livrarias Leitura, Marcus Teles, reconhece o movimento e o considera muito positivo. “A Leitura foi uma das primeiras que incentivou e a própria equipe ajuda a distribuir esse tipo de conteúdo. Hoje as pessoas descobrem muitos livros pelo Instagram, YouTube e TikTok. Vários livros que não tinham feito tanto sucesso estouraram após serem divulgados”, afirmou ele.
Samira Mendonça, 18 anos, consome esse tipo de conteúdo e interage com a comunidade leitora. A estudante vê esse tipo de perfil como uma oportunidade de aproximar do mundo da leitura. Na pandemia, foram esses conteúdos que a fizeram retomar o hábito de ler e conhecer o Kindle, aparelho que usa com frequência desde 2020.
Ela ainda ressalta a oportunidade de debater e fazer novas amizades. “Gostava muito dessa área do TikTok, me rendeu diversos amigos, tive contato com autores e pude conversar mais com eles. Diversos escritores se utilizavam da rede para falar com os leitores, esclarecer coisas sobre seus livros. Eu sempre vi no BookTok uma forma de acessibilizar a leitura, principalmente para o público mais novo”, disse a estudante.
Soteropolitanos leem mais que a média nacional
A quinta edição da pesquisa “Retratos da Leitura no Brasil”, realizada pelo Instituto Pró-Livro em parceria com o Itaú Cultural, revela que 57% dos soteropolitanos são considerados leitores, um pouco mais que a média nacional, que é de 52%.
No país, a média de livros lidos por ano é de 2,5. Quando comparado a países desenvolvidos, os dados expressam a necessidade de evolução. A mesma pesquisa revela ainda que pelo menos 30% da população nunca comprou sequer um único livro. Com base nessa realidade, especialistas alertam para a necessidade de acessibilizar o livro no país.
Ana Fátima, escritora, professora pela rede municipal de Camaçari e doutoranda em estudos linguísticos e literários pela Uneb, sugere políticas públicas voltadas para a literatura.
"Não existe uma política de doação de livros, as autoridades deveriam pensar nisso. Se esse livro não chega em casa, a família também não é estimulada a ler para a criança. O livro tem que chegar na família, acredito que isso transformaria a mentalidade da sociedade sobre a leitura. Esse livro não deve ser uma coisa difícil e distante, e sim acessível, como um pão ou leite. Se tem cesta básica, deveria ter cesta livro", afirmou a educadora e CEO da editora Ereginga Educação.
Leitura para Todos
Uma das iniciativas que tenta contribuir para um Brasil mais leitor é o projeto da Fundação Gregório de Matos (FGM), Caminhos da Leitura. O objetivo é incentivar a leitura e promover circulação de livros através diversas ações, como exposições, distribuição de exemplares e contação de histórias em espaços como escolas, bibliotecas e praças.
O programa também desenvolveu a plataforma Caminhos Digitais da Leitura, que visa multiplicar o alcance do projeto, através do universo digital. Ela foi desenvolvida a partir do aplicativo WATTpad e, além de encontrar livros digitais, as pessoas podem produzir, dentro do aplicativo, o seu próprio livro, estimulando a leitura, a criatividade e a escrita.
Em 2023, o projeto também lançou mais uma edição da ação ‘’Esqueça um Livro e Espalhe Conhecimento’’, que distribui livros gratuitos pela cidade.
A lei Paulo Gustavo Bahia 2023 prevê R$150 milhões em recursos para iniciativas culturais e destina verba para projetos envolvendo a difusão da literatura no estado. Essas iniciativas buscam manter vivo na população o gosto por histórias e pelos livros, importantes atores na preservação da memória nacional e no desenvolvimento de qualquer nação.