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Diplomacia, tarifas e migração: repercussões da reunião Trump-Lula para brasileiros no exterior!

Encontro entre os presidentes em Kuala Lumpur reacende discussões sobre comércio, deportações e proteção consular de imigrantes brasileiros nos Estados Unidos

Por Michel Telles
Às

Atualizado
Diplomacia, tarifas e migração: repercussões da reunião Trump-Lula para brasileiros no exterior!

Foto: Divulgação

A reunião entre o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, realizada durante a cúpula da ASEAN em Kuala Lumpur, na Malásia, no último domingo, abriu um novo capítulo nas relações bilaterais entre os dois países. Embora o foco oficial tenha sido o impasse comercial e o aumento das tarifas impostas pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros, analistas apontam que as consequências do encontro podem se estender ao campo migratório, especialmente no tratamento de brasileiros que vivem em solo americano.

Durante o encontro, Lula defendeu a suspensão dos aumentos tarifários que chegaram a elevar as alíquotas de importação em até 50% para setores como o de aço, alumínio e agronegócio. Trump, por sua vez, afirmou estar disposto a “fazer bons negócios para os dois países”, sinalizando uma tentativa de reaproximação após meses de tensão econômica. A reunião ocorre em um momento de endurecimento das políticas migratórias americanas e de crescente preocupação com a situação dos brasileiros no exterior.

Segundo dados da Organização Internacional para as Migrações (OIM), mais de 21 mil brasileiros foram deportados dos Estados Unidos entre 2019 e 2023. Desse total, aproximadamente 70% foram removidos em voos fretados, o que, segundo especialistas, demonstra a adoção de políticas mais rígidas de repatriação. O levantamento também aponta que há cerca de 178 mil imigrantes brasileiros vivendo nos EUA sem status migratório regular, segundo o Migration Policy Institute.

Para o advogado Daniel Toledo, especialista em Direito Internacional e fundador do escritório Toledo e Advogados Associados, o diálogo entre os dois governos pode influenciar diretamente a vida dessa população. “Sempre que há uma mudança no tom diplomático entre Brasil e Estados Unidos, a comunidade brasileira sente o reflexo. Isso acontece tanto em processos de deportação quanto na análise de vistos e na atuação consular. A diplomacia define a intensidade da cooperação entre os países, e essa relação tem impacto real sobre quem vive lá fora”, explica.

Toledo observa que, apesar de o tema migratório não ter sido o foco central da reunião, as tratativas comerciais costumam abrir espaço para discussões paralelas sobre cooperação jurídica e consular. “Historicamente, quando o Brasil busca equilíbrio nas relações econômicas com os Estados Unidos, acaba pleiteando também maior proteção para seus cidadãos. A revisão de acordos de repatriação e a ampliação da assistência consular são demandas legítimas e urgentes”, acrescenta.

Os números reforçam a preocupação. De acordo com a Agência Brasil, o número de brasileiros deportados dos EUA aumentou 65% entre 2018 e 2022. O Itamaraty tem registrado dificuldades crescentes para oferecer suporte consular a cidadãos retidos em centros de imigração americanos, o que se tornou um dos pontos sensíveis da relação bilateral. Para Toledo, esse cenário é reflexo da falta de acordos específicos entre os dois países. “O Brasil precisa de protocolos claros para proteger seus cidadãos, principalmente em casos de deportação coletiva. É uma questão humanitária e também diplomática”, afirma.

A política migratória americana sob o governo Trump segue pautada pelo controle rígido das fronteiras e pela revisão de vistos temporários e permanentes. De acordo com dados do Departamento de Estado, mais de 600 mil vistos de trabalho e estudo foram reavaliados desde 2024, e o tempo médio de processamento de novas solicitações aumentou em até 40%. “Essas medidas afetam diretamente profissionais e investidores brasileiros que tentam viver legalmente nos Estados Unidos. A incerteza gera apreensão e exige planejamento jurídico mais preciso”, avalia Toledo.

Além das questões individuais, o impacto também se estende às empresas que mantêm operações internacionais. As tarifas elevadas e as restrições à mobilidade profissional afetam brasileiros que atuam em cargos executivos ou participam de programas de transferência corporativa. “Em momentos de tensão comercial, o mercado tende a adotar posturas mais cautelosas. Companhias que enviam colaboradores aos Estados Unidos devem avaliar seus planos com antecedência e se resguardar juridicamente”, recomenda o advogado.

O governo brasileiro informou que continuará em diálogo com Washington para buscar soluções equilibradas. Fontes diplomáticas indicam que, se houver avanços nas negociações comerciais, o Brasil poderá pleitear contrapartidas que incluam maior cooperação consular e mecanismos de proteção a cidadãos no exterior.

Para Toledo, o encontro em Kuala Lumpur representa mais do que uma negociação sobre tarifas. “Esse diálogo pode redefinir a forma como o Brasil se posiciona diante das políticas migratórias americanas. Mais do que discutir comércio, é preciso pensar na segurança e na dignidade de quem já está vivendo nos Estados Unidos ou sonha em construir uma vida lá de forma legal”, conclui.

Em meio a tarifas, disputas diplomáticas e políticas migratórias mais restritivas, o futuro das relações entre Brasil e Estados Unidos tende a influenciar não apenas o comércio bilateral, mas também o destino de milhares de brasileiros que buscam estabilidade e reconhecimento em solo norte-americano.

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