Dívidas de empresas atingem pico de 60,5% do PIB, aponta levantamento
Especialista diz que índice é o maior desde 1947
Foto: Reprodução/Anasps
A alta do dólar e a busca pelo fortalecimento do caixa levou a dívida das empresas brasileiras a um nível recorde. De acordo com o Centro de Estudos do Mercado de Capitais (Cemec/Fipe), a dívida corporativa total chegou a R$ 4,3 trilhões, ou 60,5% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. No mês de dezembro do ano passado, o índice estava em 51,2% do PIB. A maior parte dessa alta do endividamento, 70% do total, tem como motivo a variação cambial.
As dívidas feitas em dólar pelas empresas tiveram aumento expressivo com a valorização da moeda americana, que chega a 30,57% este ano. Segundo o coordenador do Cemec/Fipe, Carlos Antonio Rocca, o maior problema, neste caso, é que cerca de 25% das empresas não têm proteção contra essa variação cambial (hedge, no jargão financeiro). Podem ter, portanto, mais dificuldade em fazer frente a essa alta.
Outra parte da explicação para o endividamento recorde foi o maior volume de dinheiro que as empresas pegaram emprestado para reforçar o caixa e fazer frente à crise provocada pela Covid-19. Neste caso, o risco é a economia não se recuperar rapidamente e as empresas não conseguirem retomar suas atividades de forma consistente.
“A expectativa para o próximo ano é de um cenário crítico. As instituições que não conseguirem fazer a rolagem da dívida precisarão buscar alternativas para fazer a adequação desses números, que pode ser via calote ou pedido de recuperação judicial”, diz o presidente da Corporate Consulting, Luís Alberto de Paiva.
O estudo do Cemec tem como base os dados do fim de agosto deste ano e levam em conta apenas empresas não financeiras, como os bancos. Segundo Rocca, a rigor, a dívida das empresas é a maior desde 1947, ano em que se começou a se ter esse tipo de dado disponível para análise. Em 2000, início do levantamento pelo Cemec, o coeficiente da dívida das empresas não financeiras brasileiras em relação ao PIB foi de 34,9%.
Mesmo em 2015, ano em que as empresas passaram por profunda crise, tanto por conta da recessão quanto pelos efeitos da Operação Lava Jato, e em que o dólar subiu 48% em relação ao real, o índice estava em patamar mais baixo que o deste ano: 57,7%.