Documentos apontam que Pazuello ofereceu o protocolo do 'tratamento precoce' para a OMS
Os documentos do Itamaraty foram encaminhados à CPI da Pandemia
Foto: Agência Brasil
Documentos encaminhados à CPI da Pandemia revelam que, em setembro do ano passado, o então ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, ofereceu ao diretor-geral da Organização Mundial da Saúde, Tedros Adhanom, "o compartilhamento de protocolo desenvolvido no Brasil para tratamento precoce da doença". Na ocasião, o Brasil discutia a adesão ao consórcio mundial de vacinas Covax Facility e diversos estudos já haviam descartado o uso de cloroquina e hidroxicloroquina no tratamento de pacientes com Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus.
"(Pazuello) ofereceu à OMS o compartilhamento de protocolo desenvolvido no Brasil para tratamento precoce da doença, fruto de conhecimento acumulado nas diferentes regiões do país. Ponderou que a conversação com a OMS será mais eficaz se os dois lados mantiverem perfil discreto", diz o trecho de um documento do Itamaraty, segundo o jornal O Globo.
Em resposta, Tedros "sublinhou que o interesse da OMS seria apoiar o Brasil em salvar vidas", agradeceu a intenção do Brasil de participar do Covax Facility e, diplomaticamente, "manifestou interesse no protocolo de tratamento mencionado por Pazuello", segundo o telegrama do Itamaraty. Pouco depois, em meados de outubro, a OMS reiterou , através de outro estudo, que o tratamento precoce com medicamentos como cloroquina, remdesivir e interferon não era recomendado para enfrentar a Covid-19.
Ao aderir à Covax Facility, o Brasil optou pela cobertura mínima, de 10% das doses, em vez dos 50% oferecidos. Se o país tivesse optado pela cota máxima, teria direito a mais 176 milhões de doses de vacinas. Em depoimento à CPI da Covid, no mês passado, o ex-chanceler Ernesto Araújo afirmou que a decisão da quantidade escolhida partiu do Ministério da Saúde.
Ainda segundo relato feito pelo Itamaraty sobre a conversa entre Pazuello e Tedros, o diretor-geral da OMS ofereceu a abertura de canal bilateral com o Brasil, "para identificar como a OMS pode ajudar". Na época, ficou acordado que haveria novas reuniões depois do encontro. "O Ministro Pazuello observou que as medidas promovidas pelo Brasil estão alinhadas a essas recomendações, para prevenção, mudanças comportamentais e conformação de um 'novo normal'. Acolheu positivamente a proposta do DG para a conformação de processo bilateral de reuniões técnicas, indicando o conselheiro Flavio Werneck, chefe da Assessoria Internacional do Ministério da Saúde, como seu ponto focal. Manifestou também seu interesse em novas conversas com Tedros oportunamente", diz o documento.