Dólar vira para queda após Trump adiar imposição de tarifas sobre o México

O anúncio foi feito pela presidente mexicana Claudia Sheinbaum no X (ex-Twitter)

Por FolhaPress
Ás

Dólar vira para queda após Trump adiar imposição de tarifas sobre o México

Foto: Pexels/Pixabay

O dólar virou para queda no início da tarde desta segunda-feira (3), após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, adiar em um mês a imposição de tarifas a produtos importados do México.

O anúncio foi feito pela presidente mexicana Claudia Sheinbaum no X (ex-Twitter). "Tivemos uma boa conversa com o presidente Trump, com muito respeito à nossa relação e soberania", escreveu ela.

A moeda norte-americana, que chegou a disparar para R$ 5,902 (+1,14%) na máxima da sessão, estava em queda de 0,19% às 12h56, cotada a R$ 5,823.
Já a Bolsa subia 0,21%, aos 126.403 pontos, revertendo as perdas de mais cedo.

De acordo com Sheinbaum, os governos dos EUA e do México chegaram a uma série de acordos bilaterais nesta segunda.

Na postagem no X, ela afirmou que o México irá reforçar a fronteira com os vizinhos norte-americanos com 10 mil soldados da Guarda Nacional "para evitar o tráfico de drogas para os Estados Unidos, em especial de opioides fentanil". Já os EUA se comprometeram a "trabalhar para evitar o tráfico de armas poderosas ao México".

Em resposta aos acordos, a imposição de tarifas de 25% aos produtos mexicanos, anunciada no sábado por Trump, vai ser adiada em um mês.

O anúncio fez o dólar reverter ganhos em diversas praças cambiais. O peso mexicano, em especial, subia mais de 3,20%. 

A princípio, o plano de aplicar tarifas a importações do Canadá e da China a partir de terça-feira (4) segue em curso.

No sábado (1º), Trump assinou um decreto que aplicava tarifas adicionais de 25% a todas as importações do Canadá e México, com exceção de produtos de petróleo e da energia canadenses, que enfrentarão uma taxa de 10%.

O Canadá é de longe o maior fornecedor de petróleo dos EUA, respondendo por cerca de 60% das importações americanas de petróleo bruto. Um oficial da Casa Branca disse que tarifas mais baixas para energia canadense visam minimizar os "efeitos disruptivos" nos custos da gasolina e do aquecimento doméstico nos EUA, mas confirmou que não haveria mais exclusões.

Já os produtos chineses enfrentarão uma tarifa de 10%, além das tarifas já existentes dos EUA.

O governo afirmou que cada decreto contém uma cláusula anti-retaliação, de modo que, se algum país decidir revidar, medidas adicionais serão implementadas, provavelmente como aumento das tarifas.

No próprio sábado, porém, o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, anunciou a imposição de tarifas de 25% sobre 155 bilhões de dólar canadenses (US$ 106 bilhões) em produtos americanos. Os impostos sobre 30 bilhões entrarão em vigor na terça. O restante será efetivado em 21 dias.

Os impostos recairão sobre produtos como cerveja, vinho, uísque, frutas, sucos, roupas, equipamentos esportivos e eletrodomésticos. Trudeau também pediu aos canadenses que evitem comprar produtos americanos, dando preferência aos de produção local.

Ainda sem anunciar represálias como as do Canadá, a China informou que desafiará as tarifas por meio da OMC (Organização Mundial do Comércio).

"A imposição de tarifas pelos EUA viola seriamente as regras da OMC", afirmou o Ministério do Comércio chinês em um comunicado, instando os EUA a "engajarem-se em um diálogo franco e fortalecerem a cooperação."

A justificativa para a execução das tarifas havia sido a da imigração. Segundo o republicano, Canadá e México haviam afrouxado a segurança nas fronteiras e, ao lado da China, não fizeram o suficiente para conter o fluxo de opioides nos EUA. Ele ainda sinalizou que tarifas sobre a União Europeia podem ser anunciadas em breve.

Para especialistas, as medidas de Trump podem colocar em curso uma "guerra comercial com esteroides".

"Essas tarifas anunciam uma nova era de protecionismo comercial dos EUA que afetará todos os parceiros comerciais americanos, sejam rivais ou aliados, e interromperá significativamente o comércio internacional", diz Eswar Prasad, professor da Universidade Cornell.

A imposição de tributos mais altos pode afetar fluxos comerciais, aumentar custos e provocar retaliações. Na economia doméstica dos EUA, ainda há o risco de um repique inflacionário, o que pode comprometer a briga do Fed (Federal Reserve, o banco central norte-americano) contra a inflação e forçar a manutenção da taxa de juros em patamares elevados —o que fortalece o dólar.

Neil Shearing, economista-chefe na Capital Economics, calcula que as tarifas podem empurrar a inflação para acima de 3%, em comparação com os 2,6% atuais. Impostos pesados sobre a UE e a China empurrariam o crescimento dos preços nos EUA ainda mais, alertou.

Na reunião do Fed da semana passada, o presidente Jerome Powell disse que é muito cedo para dizer quais serão os impactos das políticas de Trump e que levará o tempo necessário para avaliar seu significado. "Não sabemos o que acontecerá com as tarifas, com a imigração, com a política fiscal e com a política regulatória."

Para o economista André Perfeito, a guerra comercial de Trump "visa aumentar a arrecadação de tributos para tentar sanear o déficit gigante dos EUA".

"O uso de tarifas só faz sentido se usado de maneira cirúrgica, em setores específicos e com bastante bastante dinamismo. Elas encarecem os produtos importados, o que, em tese, favorece a produção local, mas a escolha lógica dos empresários locais é subir o preço para o novo preço de equilíbrio mais alto, tentando capturar esses excedente", diz ele.

"Contudo, há aí uma grande oportunidade: o Brasil pode comer pelas beiradas e fornecer para Canadá, México e China mais mercadorias. Como se diz, crise é oportunidade e, nesse caso, é a oportunidade da década."
 

Comentários

Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site. Se achar algo que viole os termos de uso, denuncie:redacao@fbcomunicacao.com.br

Faça seu comentário