Entenda os motivos que fizeram o Comitê Científico do Consórcio Nordeste sugerir lockdown em Salvador
Medida foi recomendada à prefeitura nesta sexta (3)

Foto: Naiá Braga / TV Bahia
O Comitê Científico do Consórcio Nordeste recomendou nesta sexta-feira (3), que as prefeituras de Salvador, Feira de Santana, Itabuna e Teixeira de Freitas adotem o lockdown, com suspensão de atividades econômicas e restrição de circulação da população nas ruas para conter a propagação pandemia da Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus. Confira abaixo a lista completa com as recomendações do Consórcio Nordeste.
A medida tem como base o número de casos da Covid-19 nessas cidades, a sobrecarga de ocupação de leitos de UTI e as baixas taxas de isolamento social, levando-se em conta dados da semana de 22 a 26 de junho. De acordo com o boletim da Secretaria de Saúde do estado (Sesab), a Bahia registrou 2.965 novos casos confirmados da Covid-19 nas últimas 24 horas.
Segundo Consórcio, qualquer cidade que tenha excedido a taxa de ocupação de 80% de leitos exclusivos para Covid-19 deve adotar lockdown ou desistir de flexibilizar as regras de isolamento social. Contudo, o prefeito da capital baiana, ACM Neto, disse, após a recomendação do Consórcio, que não se baseia no Consórcio Nordeste. Segundo ele, “Temos nossos próprios técnicos. Não considero algo que deve gerar preocupação com a nossa cidade".
Recomendações feitas pelo Comitê Científico do Consórcio Nordeste
1 - Instituição IMEDIATA de lockdown e/ou reversão de planos de afrouxamento do isolamento social de qualquer sorte, em capitais e municípios interioranos que estejam apresentando curvas crescentes ou em platô em altos patamares de casos e óbitos, com fator de reprodução (Rt) acima de 1, e que tenham excedido a taxa de ocupação (80%) de leitos (enfermaria e/ou UTI), considerada como limite máximo de segurança por este comitê. O afrouxamento só pode ser cientificamente justificado por um Rt sensivelmente abaixo de 1, com curvas de casos e óbitos apresentando quedas consistentes e de grande monta por mais de 14 dias, e com uma taxa de ocupação de leitos (enfermaria e/ou UTI) ao redor de 70%, como preconizado por este comitê. Este patamar, condizente com uma opção segura de afrouxamento, ratificada pela OMS, corresponde à cor verde na Matriz de Risco proposta por este comitê. Neste Boletim 9, o C4 recomenda a instituição imediata de lockdown (isolamento social mais restritivo) das cidades de Salvador, Feira de Santana, Itabuna e Teixeira de Freitas (BA), Maceió (AL), Aracaju (SE), e Caruaru (PE), baseados numa série de indicadores da Matriz de Risco do C4.
2 - Instituição de barreiras sanitárias ou, se necessário, dado o grau de gravidade do processo de interiorização, bloqueios temporários de todo tráfego não essencial, de carros particulares e ônibus, pelos maiores entroncamentos rodoviários do Nordeste (detalhes abaixo). O tráfego de caminhões com cargas essenciais não seria afetado por esta medida, desde que tanto os veículos passassem por processo de desinfecção apropriado e seus motoristas fossem testados e protegidos adequadamente. Estes bloqueios também não incluíram o transporte de pacientes.
3 - Implementação IMEDIATA das Brigadas Emergenciais de Saúde em TODOS os estados do Nordeste, munidas de informações detalhadas de novos focos de infecção. Estes mapas podem ser gerados pela análise diária dos dados fornecidos pela sala de situação do aplicativo Monitora Covid19 que já passou da marca de 200 mil downloads e oferece relatórios detalhados do espalhamento diário dos casos de coronavírus por todos os estados do Nordeste, mesmo aqueles que ainda não aderiram a ele. Tal medida é vital e essencial para a execução imediata de uma mudança estratégia regional na forma de manejo da pandemia no Nordeste. Assim, este comitê recomenda de forma incisiva que o foco deste processo de manejo, que hoje prioriza principalmente a expansão do número de leitos de enfermaria e UTI (que deve ser continuada) em cada estado, seja alterado para priorizar a busca ativa de casos, nas suas fases iniciais, onde o vírus nos ataca: nas casas da população nordestina, nos seus lugares de trabalho, em todos os municípios do interior e das capitais, em todos os bairros, em todas as periferias. Nenhuma guerra biológica em toda história recente da humanidade, foi ganha, nenhuma pandemia foi derrotada, dentro de hospitais e UTIs. Embora seja fundamental que tal infraestrutura hospitalar exista e seja ampliada, só é possível competir com o tempo da replicação viral e derrotá-lo indo de encontro a ele nas comunidades, identificando os casos no início da infecção, através de uma testagem massiva da população que ainda nem desenvolveu sinais clínicos. Ao mesmo tempo, as Brigadas Emergenciais de Saúde são essenciais para a realização de outra tarefa fundamental de manejo e quebra dos altos índices de replicação do vírus: o rastreamento e busca das pessoas que entraram em contato com indivíduos infectados. Esta proposta de mudança de foco, acoplando um aplicativo telefônico, com uma sala de situação regional, brigadas de saúde e testagem massiva da população, foi posta em prática em múltiplos países que conseguiram manejar com sucesso a primeira onda da pandemia. Por esta, e outras razões tipicamente específicas do Nordeste e do Brasil, este comitê acredita que sem esta mudança fundamental de visão estratégica de forma imediata o manejo da pandemia no Nordeste corre o risco de sair de qualquer controle dos gestores públicos.