Estrutura cerebral lesionada por falta de vitamina B1 pode ser recuperada, diz Fiocruz
Pesquisadores associaram a reposição de B1 a medicamentos anti-inflamatórios
Foto: Reprodução/Pixabay
Apesar da literatura científica indicar que as partes do cérebro lesionadas por falta da vitamina B1 são irrecuperáveis, um estudo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) mostra que é possível regenerar o hipocampo, estrutura responsável pela constituição de novas memórias, associando a reposição de B1 a medicamentos anti-inflamatórios. Os achados foram descritos em um artigo publicado na revista Journal of Neuroinflammation, uma das mais influentes na área de neurociências.
A vitamina tem papel relevante para o bom funcionamento cerebral e a deficiência crônica desse nutriente pode gerar uma série de problemas neurológicos e cognitivos. Isso ocorre porque a falta de B1 no organismo, por um período prolongado, leva à morte de neurônios e outras células, comprometendo funções de diferentes regiões do cérebro, inclusive o hipocampo.
Para chegar aos resultados do estudo, os pesquisadores usaram fatias do hipocampo de ratos, preservando, em laboratório, todos os componentes necessários ao funcionamento do tecido, exceto a vitamina B1. O objetivo era investigar os processos desencadeados pela falta do nutriente. A investigação mostrou que, a partir do 5º dia, estabeleceu-se a deficiência de B1, levando à morte de células que gastam mais energia, os neurônios.
Essa primeira leva de morte celular liberou componentes no tecido, que ativaram o sistema imune e geraram um processo inflamatório potente que durou alguns dias. Quando a deficiência de B1 deixou essas células inflamatórias sem energia e elas começaram a perder atividade, a inflamação diminuiu. Já no 10º dia, ocorreu um pulso de neurogênese, que é a produção de novos neurônios.
“Vimos que as fatias do hipocampo são repovoadas com novos neurônios maduros, assim que a atividade das células inflamatórias diminui. Isso não dura muito tempo, mas ocorre uma janela temporal na qual ainda é possível recuperar o tecido”, afirma o pesquisador da Fiocruz Minas Roney Coimbra, coordenador do estudo.
Com esse resultado, os cientistas partiram para uma segunda etapa, com o intuito de verificar se a introdução de um anti-inflamatório seria capaz de desencadear a produção de neurônios. Os resultados mostraram que o Resveratrol diminuiu a atividade das células de defesa das fatias de hipocampo, interrompendo a inflamação. Com isso, a neurogênese ocorreu antecipadamente.
De acordo com os pesquisadores, os resultados do estudo abrem perspectivas para o tratamento de doenças como a síndrome de Wernicke-Korsakof, que se manifesta como consequência da não ingestão má absorção ou metabolização incorreta de vitamina B1 e é caracterizada por uma combinação de encefalopatia e psicose, com déficits cognitivos, amnésia, distúrbios neuropatológicos com extensa neurodegeneração e disfunção celular e molecular no hipocampo e outras regiões do cérebro.