Estudo brasileiro poderá resultar em ferramenta de combate ao câncer

A próxima etapa da pesquisa deverá ser iniciada em 2020

Por Da Redação
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Estudo brasileiro poderá resultar em ferramenta de combate ao câncer

Foto: Reprodução

Onze pesquisadores brasileiros, coordenados pela professora do Departamento de Química Inorgânica da Universidade Federal Fluminense (UFF), Célia Machado Ronconi, realizaram estudos preliminares que poderão resultar, no futuro, em uma ferramenta efetiva para a destruição de células cancerígenas.

Em parceria com o Instituto Nacional do Câncer José de Alencar Gomes da Silva (Inca), os estudos in vitro (em laboratório) utilizou células do câncer de mama de uma mulher de 69 anos. A linha de pesquisa foi o desenvolvimento de um sistema de transporte de fármacos, utilizando a doxorrubicina - fármaco tóxico usado para vários tipos de câncer. “A gente sabe que os fármacos de câncer não são seletivos. Eles atacam tanto a célula tumoral quanto a sadia”, disse Célia Ronconi.

A ideia do grupo foi desenvolver um mecanismo em que o fármaco só fosse liberado na presença da célula tumoral, “para ver se o protótipo ia funcionar”. Foi desenvolvida então uma espécie de reservatório em escala nanométrica, no qual foi colocado o fármaco (doxorrubicina). “Aí, a gente tampa esse reservatório como se fosse uma válvula mesmo”, explicou Célia. Os pesquisadores usaram um composto grande para cobrir totalmente a superfície do reservatório.

PH ácido

Célia ainda informou que o fármaco não vaza. Ele fica preso dentro do reservatório e quando encontra um PH mais ácido – como o das células de câncer, que varia entre 4.5 e 5.5, a tampa do nanorreservatório é liberada. “Na superfície desse material, nós colocamos grupos que reagissem a esse PH mais ácido, de maneira que a tampa se soltasse”. Em uma linguagem mais simples, isso quer dizer que a tampa só abre quando o meio está ácido, ou seja, quando ele chega à célula tumoral.

Os ensaios in vitro, em que os pesquisadores cresceram as células isoladas de câncer, resultaram em estudos de viabilidade celular, para ver o quanto esse dispositivo, carregado com o fármaco, seria tóxico para essas células. “Deu um resultado bem surpreendente. A gente conseguiu redução de 92% na viabilidade celular. Ou seja, ele matou 92% das células de câncer de mama”. Célia Ronconi chamou a atenção para o fato de que o fármaco usado puro, na mesma concentração, matou só 70% dessas células. “O nosso sistema foi mais tóxico, carregado com o fármaco”. Puro, o fármaco apresentou baixa toxicidade. Os pesquisadores pretendem investigar porque o efeito é maior do fármaco no nanorreservatório do que o fármaco puro.

Ensaios in vivo

A próxima etapa da pesquisa deverá ser iniciada em 2020 e envolve não só ensaios com células sadias, mas também in vivo, isto é, com animais - usando camundongos imunodeficientes. Há ideia também de fazer ensaios com outros tipos de câncer.

Célia afirmou que o resultado obtido até agora é muito promissor e anima os pesquisadores a seguirem adiante com os estudos. Somente após a realização de todas as etapas se poderá afirmar que o nanorreservatório poderá ser utilizado no tratamento de pacientes com câncer. “Ainda falta muita coisa para ser feita. Tem um protocolo a ser seguido”, lembrou. “Mas os resultados foram muito promissores”.

Na avaliação da coordenadora da pesquisa, a importância maior do nanorreservatório anticâncer é diminuir os efeitos que a droga causa, porque a droga não é seletiva. 

Tumores localizados

A pesquisa trabalha com a perspectiva de o nanorreservatório poder ser injetado no corpo humano para atuar em tumores mais localizados, onde liberaria seu conteúdo, que é o fármaco. Célia admitiu que isso pode ocorrer, “em princípio”. Mas insistiu que essa possibilidade ainda não foi estudada a fundo. “Haveria essa possibilidade. Mas não estudei isso ainda”.

O estudo levou aproximadamente dois anos e foi parte do trabalho de doutorado de Evelyn Santos, aluna da UFF. Um artigo sobre os resultados dos ensaios in vitro foi publicado pelo grupo de pesquisadores na última semana, na revista britânica Journal of Materials Chemistry B, da Royal Society of Chemistry, sociedade fundada em 1848.

O grupo reúne pesquisadores da UFF, do Inca e do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF). O estudo recebeu investimentos da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Rio de Janeiro (Faperj).

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