Ex-coordenador da Lava Jato diz que entrada de Moro e Deltan na política 'prejudicou' imagem da operação
Carlos Fernando dos Santos Lima nega abusos da operação e diz que Ministério Público se enganou ao crer que investigação resistiria à pressão dos partidos
Foto: Reprodução/Agência Brasil
Integrante da Lava Jato em Curitiba, o ex-procurador procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, hoje aposentado, afirmou que a investigação deixou um legado importante para trazer à tona o esquema de corrupção no país.
Em entrevista ao jornal O Globo, Santos Lima, Santos Lima negou o cometimento de abusos por parte da investigação e classificou as acusações contra a operação como “falaciosas”.
“Não houve abusos. E se tivesse havido, o Judiciário teve chance de corrigir. Nenhuma decisão do Moro deixou de ser julgada em outras instâncias. A maior parte dos argumentos contra a Lava-Jato são falaciosos, ingênuos. Mas pegam, porque a maior parte das pessoas tem preguiça de pensar,” afirmou.
O ex-procurador aposentado também reconheceu que o Ministério Público errou ao acreditar que sustentaria uma investigação com a amplitude da Lava-Jato diante da pressão política.
“Achamos que o Ministério Público teria condição, diante da pressão política, de sustentar uma investigação desse tamanho. Hoje tenho a impressão de que em nenhum país você sustenta uma investigação tão gigantesca. Os Estados Unidos estão aí com problemas com investigações simples envolvendo o (ex-presidente Donald) Trump. Imagina o Brasil com investigações envolvendo todos os grandes partidos? Começou com o PT, mas logo se transformou em investigação do PMDB, do PSDB... O crescimento era inevitável, mas causou impacto difícil de suportar a longo prazo,” disse.
Questionado sobre o impacto da ida do ex-juiz e senador Sérgio Moro (União Brasil-PR), e do ex-procurador Deltan Dallagnol na imagem da Lava Jato, Santos Lima declarou que esse movimento serviu para politizar a operação.
“Não tenho dúvida que prejudicou. Criou um argumento fácil, de modo a jogar tudo para a política. Eu tive uma conversa com o Moro na época, falando das minhas dúvidas quanto à honestidade da proposta do novo governo, porque eu não acreditava no (ex-presidente Jair) Bolsonaro. Achava que, como ministro da Justiça, o Moro teria que se submeter a uma guerra cultural. Ele tem o rosto da anticorrupção, mas não do conservadorismo cultural que a direita bolsonarista tem. Na minha opinião, era um erro, declarou.
Santos Lima também afirmou que o “problema” em relação a influência da Lava Jato foi o fato da operação ter sido apropriado por “um discurso de direita”.
“O problema da Lava-Jato é que ela foi apropriada como discurso por um movimento de direita, porque era a forma de se contrapor à esquerda. Isso causou prejuízo enorme. Essa identificação não deveria existir, mas existe na mente de muitas pessoas. Auxiliou nesse aspecto a ida do Moro para o Ministério da Justiça,” disse.