Filtros do Instagram: como a ferramenta tem afetado autoestima dos usuários

Os filtros disponíveis na rede social Instagram têm impactado na autoimagem dos usuários, sobretudo nos mais jovens. Segundo dados do Projeto Dove pela Autoestima, realizado em 2020, quase 84% das adolescentes brasileiras já usaram algum tipo de filtro nas fotos. 

Filtros são efeitos disponibilizados pela plataforma digital que alteram a imagem ou vídeo de uma pessoa. Ou seja, utiliza-se tecnologia de realidade aumentada (RA) para mudar parcialmente ou completamente a imagem do usuário. 

O Instagram adotou os famosos “filtros”, primeiramente, nas publicações para o feed, com a incorporação da ferramenta “storie” na plataforma, que antes era exclusiva do aplicativo “Snapchat”. Os filtros passam a estar presente nesse novo mecanismo. Porém, o que era algo puramente divertido e muitas das vezes “bizarro”, como o famoso filtro do cachorrinho, ganhou um novo significado e diversos outros tipos. 

Dependência 

O uso excessivo da ferramenta no Instagram é prejudicial a saúde e tende a gerar transtornos emocionais, físicos e alimentares, de acordo com a psicóloga clínica, Juliana Araújo (36). Para ela, é importante saber os limites da exposição ao filtro, pois, “o uso excessivo de telas e filtros, além de impactar na saúde mental, pode causar frustração diante da idealização de uma imagem perfeita, pois estar bem diante dos padrões exigidos pela sociedade trás no ser humano uma certa “obrigação” em manter sempre uma boa aparência para se sentir pertencente do meio em que vive, o que acarreta grandes prejuízos, seja na vida pessoal, social e profissional do indivíduo” afirmou.

Foto: Erika Azevedo/Farol da Bahia

A jovem Nicole Carvalho (23) (nome fictício) é um exemplo. Ela começou a utilizar os filtros para postar fotos nas redes sociais ainda no início da adolescência, pois não gostava da imagem dela na época. Atualmente, ela se considera viciada em utilizar a ferramenta nas publicações, sobretudo no storie. 

“Eu não posto foto no storie sem filtro, eu não lembro qual foi a última vez que publiquei uma foto que não tivesse filtro. Até mesmo quando a foto não é minha, eu uso filtro, é realmente um vício. Até mesmo fotos de paisagens, eu coloco filtro”, disse Nicole. 

Casos como o de Nicole servem de alerta para crianças e adolescentes. O que parece ser inofensivo ou apenas uma “maquiagem” para disfarçar algumas imperfeições, pode causar danos irreparáveis para saúde, sobretudo a mental. 

Na internet, muita das vezes, nos deparamos com padrões de rosto e corpo “perfeitos”, exibidos pelos influenciadores digitais. Porém, o que é exibido no Instagram, não é realidade por trás das câmeras. Geralmente, há muita maquiagem, photoshopp e filtros para mascarar o que é real e assim, passar a imagem de perfeição que não existe. 

A influenciadora digital Ayalla Carvalho (25) trabalha com internet há nove anos e afirma que utiliza os filtros, porém de maneira consciente, já que ela precisa aparecer diariamente na rede social para interagir com os seguidores e expor a rotina. “Tem dias que eu estou muito cansada, utilizo os filtros para disfarçar o aspecto de cansaço e fazer aquela ‘maquiada’, principalmente nas olheiras. Ele (o filtro) ajuda bastante, porque me ajuda a gravar mais vezes para o storie”. 

Influenciadora Ayalla Carvalho em uma foto sem filtro no feed dela do Instagram. Foto: Arquivo Pessoal/Instagram 

Porém, a influenciadora não se considera dependente da ferramenta, ela conta que quando escova o cabelo e coloca alguma maquiagem, publica fotos e vídeos sem filtros, para ela não há necessidade, já que se sente bem como a própria imagem. 

Sem filtros 

Apesar da maioria dos usuários postarem fotos e vídeos com filtros, outros preferem publicações mais reais, que mostrem realmente como as pessoas são. A jovem de 26 anos, Beatriz Castellucio, afirma que não conseguia postar fotos sem filtros na adolescência.  Ela se sentia feia e de certo modo, utilizava a ferramenta para esconder a própria imagem. 

Atualmente, Beatriz não utiliza filtro nas publicações.

“Eu decidi parar, porque eu acho que cria uma dependência, quando você começa a usar filtro do Instagram, só consegue postar foto usando filtro e se acha feio. Eu me achava feia quando não postava com filtro e isso não é legal. Porque eu não sou assim na realidade, é estranho quando a pessoa mostra uma coisa na internet e na vida real é outra. Então, eu decidi não usar mais filtro por causa disso”, disse.

A psicóloga clínica e escolar, Sara Mascarenhas (27), concorda com Beatriz. Para ela, os filtros são bem prejudiciais na percepção que as pessoas têm delas mesmas. “Percebo que as pessoas deixaram de se ver de maneira natural após a utilização dos filtros. A percepção que essa máscara de embelezamento causa, pode afetar o auto reconhecimento e a maneira como as pessoas se enxergam fisicamente” disse. 

Exclusão de filtros 

No dia 14 de janeiro desse ano, o Instagram retirou os filtros criados por usuários da plataforma. Atualmente, somente os desenvolvidos pelo Facebook permanecem ativos para os internautas. A Meta, empresa que conduz a plataforma, já tinha comunicado a decisão em agosto do ano passado. 

Foto: Erika Azevedo/Farol da Bahia 

A psicóloga Juliana concordou com a medida e julga ser eficaz para combater os problemas derivados do uso excessivo. “Precisamos ser quem somos e se porventura houver algo que não esteja nos agradando, ter uma ação diante disso, gerar um comportamento que possamos melhorar, para nos sentirmos bem em paralelo a uma autoestima estável sem precisar de filtros para isso. Até porque filtros, não é uma realidade. Porque geralmente as pessoas buscam ter o corpo perfeito a qualquer custo, o rosto perfeito, o cabelo perfeito, principalmente por se identificarem com os digitais influencers e entre outros famosos que utilizam sua imagem como fonte de trabalho, sem olhar a si mesmo e ter uma aceitação de sua beleza natural”, afirmou.

Medidas como essa são importantes para preservar a exposição e saúde dos usuários da rede social, sobretudo crianças e adolescentes, que com o surgimento de outras redes sociais ficam mais dependentes da utilização desse tipo de ferramenta.