FMI reduz projeção de crescimento do Brasil e da maioria dos países após tarifas de Trump
Os dados constam no relatório Perspectivas Econômicas Mundiais de abril

Foto: Agência Brasil
O FMI (Fundo Monetário Internacional) reduziu a previsão de crescimento da maioria dos países depois de o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, deflagrar um embate comercial com o mundo.
O Brasil, que antes tinha a perspectiva de crescer 2,2 % em 2025 e em 2026 perdeu 0,2 ponto percentual e agora deve ter uma expansão projetada de 2%. O país acaba sendo um dos menos afetados se comparado às previsões para China, EUA e outras nações.
Os dados constam no relatório Perspectivas Econômicas Mundiais de abril, que foram revisados em comparação ao mesmo documento lançado em janeiro deste ano.
O FMI previa um crescimento global de 3,3% em 2025 e 2026 e agora reduziu esse índice para 2,8% em 2025 e 3% em 2026. O documento aponta como uma prioridade restaurar a estabilidade da política comercial.
"Estamos entrando em uma nova era, pois o sistema econômico global que operou nos últimos 80 anos está sendo reconfigurado", afirmou Pierre-Olivier Gourinchas, economista-chefe do FMI, nesta terça (22), a respeito das medidas lançadas por Trump.
O documento do FMI aponta que as tarifas terão um impacto "a níveis não vistos em um século".
Os EUA serão fortemente afetados, de acordo com o fundo. As projeções de crescimento do país norte-americano para 2024 é de 1,8%, 0,9 a menos do que os 2,7% previstos em janeiro. A inflação nos EUA, por sua vez, tem uma projeção de alta.
Pierre afirma que a economia americana já vinha passando por uma desaceleração e que, por isso, cerca de 0,4 pontos percentuais dos 0,9 de redução projetada teriam relação com as tarifas. O economista descarta, porém, que se trate de uma recessão já nos EUA, mas de um aumento para 40% de risco de que ocorra esse cenário.
"Estamos projetando que o crescimento será de 1,8% em 2025, o que representa uma revisão de desaceleração de 0,9 ponto percentual em nossas projeções de janeiro. Mas 1,9% obviamente não é uma recessão. E a razão para isso é que temos uma economia dos EUA que, em nossa visão, vem de uma posição de força", explicou.
Já a China teve sua perspectiva de crescimento para 2025 revisada de 4,6% para 4%, 0,6 ponto percentual inferior.
O economista disse que, como foi observado durante a epidemia, o cenário gera um choque nas taxas de câmbio, o que amplia o risco para a economia global. "Os riscos para a economia global aumentaram e estão firmemente voltados para baixo. Uma escalada das tensões comerciais deprimiria ainda mais o crescimento."
Ao mesmo tempo, ele sugere que os países abordem os "desequilíbrios domésticos" e suas próprias posturas comerciais para promover um ambiente comercial "mais claro e estável".
"Para a Europa, isso significa gastar mais em infraestrutura pública para acelerar o crescimento da produtividade. Para a China, significa aumentar o apoio à demanda doméstica, enquanto para os EUA significa intensificar a consolidação fiscal."
O fundo fez também uma estimativa prevendo a pausa da maioria das tarifas anunciadas por Trump em 2 de abril e o aumento das sobretaxas aplicadas à China.
Mesmo com a suspensão temporária das alíquotas, a projeção de crescimento seria parecida com a do cenário em que todas as tarifas ficam em vigor.
"Esta pausa, mesmo se estendida permanentemente, proporciona uma perspectiva de crescimento semelhante à nossa previsão de referência de 2,8%", disse.
Após anunciar tarifas retaliatórias elevadas para cerca de 60 países, Trump anunciou pausa de 90 dias nas tarifas para todos os principais parceiros comerciais dos EUA, impondo a sobretaxa de 10%, enquanto ampliou para 145% as alíquotas sobre os produtos chineses.
O economista frisou que todas as regiões acabam sendo impactadas negativamente, mesmo que algumas se beneficiem temporariamente das divergências tarifárias, e que o processo de desinflação deve continuar, mas em ritmo mais lento.
"A incerteza de exposição também aumenta devido às complexas perturbações setoriais que as tarifas podem causar ao longo das cadeias de suprimentos. Como vimos durante a pandemia, o efeito desses choques nas taxas de câmbio é complexo", afirmou.
"Embora não estejamos projetando uma desaceleração global, o risco de que isso possa acontecer este ano aumentou substancialmente de 17% projetados em outubro para 30% agora", completou.
O FMI projetou ainda uma queda drástica no crescimento do comércio global: de 3,8% em 2024 para 1,7% em 2025.