Inclusão e abraço: ONG em Salvador oferece atendimento gratuito para crianças com microcefalia
Presidente do 'aBRAÇO a Microcefalia' explica como o projeto surgiu; saiba como fazer doações
Foto: Divulgação/aBRAÇO a Microcefalia
Foi em meio ao surto do zika vírus no Brasil, entre o final de 2015 e 2016, que nasceu a necessidade da troca de experiências entre as mulheres que foram diagnosticadas com o vírus durante a gravidez. A ideia de acolhimento partiu de Joana Passos, que também teve zika durante o período gestacional e buscava entender mais sobre a doença e de como seria a vida dali em diante.
"Era um momento de dúvidas e incertezas. Eu estava sem saber o que fazer, precisando de acolhimento e de apoio", conta Joana ao detalhar que foi a partir de um grupo no WhatsApp feito por um médico, onde os membros eram mães na mesma situação que ela, que surgiu a ideia de reunir as mulheres para momentos de desabafo, fortalecimento e união.
Com a intenção de criar um ciclo de fortalecimento e encontrar caminhos para enfrentar os desafios que viriam com a chegada dos filhos com a microcefalia - condição em que o cérebro do bebê não desenvolve completamente -, surgiu o aBRAÇO a Microcefalia, um projeto que se tornou uma Organização Não Governamental (ONG) diante do crescimento de demandas.
"O aBRAÇO a Microcefalia surgiu a partir dessa reunião informal. Tínhamos essa intenção de nos encontrar, trocar experiências, trocar abraços, afetos e informações como lidar com toda a situação. Foi aí que também descobrimos outras necessidades e começamos a pedir doação de cestas básicas e fraldas porque a grande maioria das famílias vivem com apenas um salário mínimo. Precisávamos fazer esse apoio", explicou Joana.
Devido ao crescimento das demandas, a coordenadora decidiu transformar o projeto em ONG em 2018, para que pudesse arrecadar recursos e oferecer atendimentos aos bebês com a microcefalia. "Não tinha nenhum lugar que atendesse especificamente o nosso público. Inicialmente, ficamos em um espaço emprestado na Casa da Providência [no bairro da Saúde, em Salvador], mas conseguimos um espaço próprio em 2021, após entrar em um processo seletivo no Governo da Bahia. O nosso desafio agora é terminar de construir os espaços", contou a fundadora da ONG.
Hoje a ONG está localizada no bairro de Mussurunga e oferece atendimento multidisciplinar gratuito, como terapia ocupacional, fisioterapia e fonoaudiologia, oferecidos por voluntários das áreas médicas. "Além disso, fazemos doação de fraldas, promovemos eventos, também fazemos com que os direitos dessas famílias sejam garantidos e as mães possuem atendimento de psicologia", disse.
Atualmente, o aBRAÇO a Microcefalia atende 331 crianças, que estão cadastradas e recebem todo o acolhimento na sede. "As mães que desejarem serem cadastradas passam por uma entrevista junto ao serviço social, onde um questionário é feito e documentos e exames são avaliados. Depois informamos se ela está apta ou não a se cadastrar na ONG", explicou. As mães que desejarem os serviços devem entrar em contato por meio dos telefones (71) 9 9630-7875 (WhatsApp) ou (71) 3016-4004.
Significado do nome
Segundo Joana Passos, aBRAÇO não foge muito do seu significado geral, o nome foi escolhido a partir do que ela precisava no momento da epidemia. Além do desejo de que sua filha, assim como outras crianças com microcefalia, fossem acolhidas pela sociedade.
"A aBRAÇO vem de abraço mesmo. Era tudo o que eu precisava. O abraço transforma a vida de quem dá e de quem recebe. Todo mundo falava muitas coisas ruins, que as crianças iriam nascer e morrer, que eram um desastre da natureza. Mas são filhos e eu não queria que a minha filha fosse excluída, queria que ela fosse abraçada, assim como todas as crianças. Abraço vem de inclusão. Vamos abraçar a microcefalia e não excluir", explicou.
Como ajudar
Os interessados em ajudar a dar continuidade ao trabalho desenvolvido por Joana e tantos outros voluntários que diariamente transformam as vidas de famílias e crianças com a Síndrome Congênita do Zika Vírus, Microcefalia e outras malformações neurológicas, podem realizar doações com PIX, cartão de crédito, imposto de renda, além de adquirir algum dos produtos disponíveis na loja online (clique aqui).
Quem não puder doar dinheiro, pode doar roupas, sapatos, bolsas e brinquedos (desde que estejam em bom estado de uso), fraldas infantis (G, XG e GG) e geriátricas (P e M) e produtos de limpeza.