Inflação vai pesar ainda mais para a baixa renda este ano, dizem economistas
Gastos com alimentos, que representam cerca de um terço das despesas mensais do mais pobres, devem continuar pressionando
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Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil
A inflação percebida por famílias de baixa renda deve ser maior em 2025 que a do ano passado, disseram economistas ao Valor Econômico. Os especialistas entendem que os gastos com alimentos, que representam cerca de um terço das despesas mensais do mais pobres, devem continuar a pressionar.
E não estão descartados outros aumentos de preço em itens importantes no orçamento da baixa renda, como energia elétrica e ônibus urbano.
A alta da inflação para a população de renda mais baixa deve ocorrer a despeito de a primeira divulgação deste ano ter mostrado um índice mais contido para esse público, afirmam os economistas.
As faixas de renda mais baixas percebiam preços e produtos mais caros no ano passado, mas em uma intensidade menor que os consumidores com renda mais alta. Em 2024, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), que apura impacto de preços em famílias com ganhos entre 1 e 5 salários mínimos, calculado pelo IBGE, subiu 4,77%. A taxa foi levemente abaixo da inflação média do país, apurada pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que engloba famílias com renda de até 40 salários mínimos mensais, também calculada pelo IBGE e que subiu 4,83%.
Apesar de ser menos intensa que para as faixas mais altas, a oscilação de preços para os mais pobres foi a maior desde 2022, quando o INPC marcou 5,93%. Em 2023, o INPC foi de 3,71%.
Famílias mais pobres gastam 22% da renda com alimentação, aponta estudo
Os alimentos são responsáveis por 22,61% do orçamento das famílias de baixa renda, que ganham de 1 a 1,5 salários mínimos. Os dados foram reunidos em um estudo do economista André Braz, coordenador de Índices de Preços da Fundação Getulio Vargas (FGV), publicado nesta segunda-feira (24) pelo jornal O Globo.
O grupo de produtos consome mais das famílias que os gastos com habitação, que incluem aluguel, luz e gás, e já ultrapassou os transportes.
Mas não é só agora em 2025 que os preços dos alimentos têm assustado os brasileiros. Desde o início de 2020, pouco antes da pandemia de Covid-19, a alimentação no domicílio acumula alta de 55,87%, acima dos 33,46% da inflação média brasileira medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no mesmo período.
Foram anos seguidos de altas fortes, justificados por secas e enchentes mais frequentes, a própria pandemia, alta do dólar, além dos conflitos ao redor do mundo. Somente em 2023 o peso do grupo alimentar no orçamento sofreu uma leve queda de 0,52%.
Apesar de fatores que influenciam no aumento dos preços não atingirem exclusivamente o Brasil, como fenômenos climáticos e pandemia, o aumento acontece de forma mais contundente, pois em países desenvolvidos, com menos desigualdade social, os alimentos pesam menos na média da inflação.
O estudo de Braz mostra ainda que mesmo para lares com renda acima de 30 salários mínimos, o gasto com comida subiu de 9,23% em 2018 para os atuais 11,32% da despesa total.