Lavagem de Itapuã: última festa popular antes do carnaval acontece nesta quinta (9)
Tradição completa 118 anos com retorno dos festejos
Foto: Bruno Concha/Secom PMS
A última festa popular de Salvador antes do carnaval acontece em 2023 nesta quinta-feira (9). A secular Lavagem de Itapuã completa 118 anos de história, marcados pelo retorno da celebração no formato tradicional, que não acontece desde 2020, por causa da pandemia.
Sempre na última quinta-feira antes do carnaval, a festa começa ainda de madrugada, com o Bando Anunciador - grupo de moradores de Itapuã - fazendo um trajeto pelo bairro para convidar as pessoas nas ruas para o evento.
Os festejos, então, se concentram nos arredores da Igreja Nossa Senhora da Conceição de Itapuã, com a lavagem das escadarias.
História
De acordo com o historiador Ricardo Carvalho, inicialmente, o evento tinha um forte teor religioso, mas esse aspecto foi se dissipando.
"Os primeiros registros da existência dessa festa vêm do século 19, quando os pescadores faziam homenagem à Nossa Senhora da Purificação, em 2 de fevereiro. Na década de 1930. os festejos migraram para homenagear a Nossa Senhora da Conceição de Itapuã e seguiu com o teor religioso, inclusice com forte influência das religiões de matriz africana e a presença de um sincretismo potente. Com o passar nos anos, no entanto, os moradores do bairro passaram a assumir a festa e hoje são eles quem comandam toda a organização. A presença da religiosidade ainda existe, mas é colocada em segundo plano, porque hoje em dia a grande homenagem é ao próprio bairro", explicou ele.
Algumas tradições foram se acumulando ao longo do tempo, como o café de Dona Niçu, que precede o início da festa. Niçu, já falecida, era a moradora à frente das festividades e os filhos seguiram o mesmo caminho após sua morte.
Atividades
Antes do café, ocorre, por volta das 6h, a Lavagem das Nativas, uma tradição que também começou com dona Niçu e outras mulheres do grupo de moradoras de Itapuã. Elas faziam a primeira lavagem das escadarias, que precede a maior, feita durante a festa.
Depois do café, por volta das 10h20, os moradores fazem um cortejo, que sai de Piatã e vai até a Igreja de Itapuã, para a lavagem das escadarias. Todo o trajeto é acompanhado pelo Afoxé Filhos de Gandhy, além de baianas, capoeiristas, pescadores e diversos amantes da festa.
Aline Macedo cresceu no bairro de Itapuã e, mesmo já tendo se mudado até de cidade, volta a Salvador sempre para comparecer à Lavagem.
"Minha família me levava desde pequena, então eu cresci com essa tradição. Eu moro hoje em Feira de Santana, mas já me programa para fazer essa viagem para vir à festa. Como não é tão longe, eu sempre consigo. E dessa vez é que eu não ia faltar mesmo, já que são três anos de saudade", disse ela.
Depois do cortejo, as celebrações seguem noite adentro, com shows do bloco afro Malê de Balê, da Escola de Samba Unidos de Itapuã, do grupo Kimbaila Erê, do Ecoar dos Tambores, da Puxada Itapuanzeira, da Pipoca de Oxeturá, entre outros.
Preservação
Mesmo que o significado inicial da festa tenha sido alterado, Ricardo Carvalho destaca que nem todo o contexto foi perdido.
"A presença das baianas, por exemplo, reforçam esse teor religioso e do sincretismo, também a manutenção do local e a lavagem justamente das escadarias da igreja. E é importante lembrar também que para manter viva a memória dos pescadores que iniciaram a tradição, desde 1987 a Baleia Rosa do Amor está presente da festa. É uma baleia inflável, que faz referência à caça ao animal, que era comum entre antigos pescadores", afirmou.
A Lavagem de Itapuã fecha o ciclo de festejos populares de Salvador que antecedem o carnaval, iniciado com a Festa de Santa Bárbara/Iansã, em 4 de dezembro.
Já o próprio carnaval começa em 2023 em 16 de fevereiro e segue até o dia 22 do mesmo mês.