Política

Lei de IA avança no Senado com previsão de remuneração de direitos autorais

O projeto em tramitação no Senado prevê que as aplicações de IA de "alto risco" passem por avaliação de riscos

Por FolhaPress
Ás

Lei de IA avança no Senado com previsão de remuneração de direitos autorais

Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado

O projeto de lei da Inteligência Artificial foi aprovado nesta quinta-feira (5) na comissão temporária sobre IA no Senado e segue para votação no plenário da casa na próxima terça-feira (10).

Em queda de braço com senadores bolsonaristas e as Big Tech, o governo abriu mão de incluir o conceito de integridade de informação no relatório do projeto de lei aprovado nesta quinta mas o pagamento de direitos autorais por conteúdo usado em treinamento de IA, outra prioridade dos governistas, foi mantido no texto. Outra vitória da oposição foi a exclusão das plataformas de internet do rol dos sistemas de IA classificados como de alto risco, o que as sujeitaria a regras mais rígidas.

O projeto em tramitação no Senado prevê que as aplicações de IA de "alto risco" passem por avaliação de riscos, testem possibilidade de vieses e preconceitos, e deem aos usuários o direito à revisão humana das decisões. Entre os sistemas de alto risco previstos no projeto estão aqueles que atuam no controle do trânsito, seleção de estudantes para entrada em instituições, contratação e promoção de funcionários, gestão da imigração e das fronteiras.

O relator do projeto, senador Eduardo Gomes (PL-TO) acatou uma emenda do senador Marcos Rogério (PL-RO) que retirou do rol de alto risco os sistemas de curadoria, difusão, recomendação e distribuição automatizada de conteúdo. Trata-se dos algoritmos usados por empresas como YouTube, Google, X, TikTok e Meta para determinar como distribuir e recomendar conteúdo.

As empresas e a oposição também conseguiram retirar do texto da lei a maioria das menções a integridade de informação, que consideravam uma maneira de o governo interferir em conteúdo e violar liberdade de expressão.

Um dos incisos suprimidos determinava que riscos "à integridade da informação, à liberdade de expressão, ao processo democrático e ao pluralismo político" seriam critério para identificação de novas hipóteses de IA de alto risco.

Eles acreditam que esses termos são excessivamente vagos e vão permitir ao órgão regulador censurar conteúdo, representando ameaça à liberdade de expressão.

"Quem vai ter poder para dizer o que é confiável e o que não é, o que tem consistência e o que tem precisão?" questionou o senador Marcos Rogério nesta quinta. "Tive o cuidado de propor (emenda) que retira do texto o que dá margem para criar o ministério da verdade no Brasil".

Em contrapartida, o projeto de lei manteve intacta a previsão de remuneração de direitos autorais sobre dados e conteúdo usados para treinar modelos de inteligência artificial, que poderia custar milhões às Big Tech.

Em nota assinada por entidades representantes de empresas de tecnologia e do agronegócio criticaram o texto.

"A versão atual do PL 2338 ainda não encontrou o mais adequado equilíbrio entre a proteção de direitos de autor e conexos e a criação de um ambiente amigável à inovação para possibilitar o treinamento de modelos de IA sem inviabilizar a proteção dos titulares de direitos", diz a nota. "A última versão do PL 2338 apresenta um conjunto de regras que pode inviabilizar o desenvolvimento da IA no Brasil. "

As empresas defendem que todos os dados e conteúdos públicos na internet possam ser usados para treinar modelos de IA sem remuneração a não ser que os autores ou detentores dos direitos façam o chamado "opt out", declarem que não querem que seu conteúdo seja usado.

O texto prevê retroatividade autores que já tiveram seu conteúdo "raspado" sem autorização para treinar modelos de IA teriam direito a remuneração.

A previsão era votar no plenário nesta quinta-feira mesmo, mas o relator adiou para terça, sob pressão da oposição. "Tem uma bancada que não quer regulação nenhuma, quer o livre o funcionamento da IA como na atualidade, abrindo espaço para discurso de ódio e crimes", disse à reportagem o senador Randolfe Rodrigues (PT-AP).

Ainda assim, ele citou a mobilização dos artistas pela remuneração de direitos autorais, mantida no texto, e festejou. "Vemos um grande passo aprovação na comissão", disse.
 

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