Lula chama de 'abominável' mudança de gênero em visto de Erika Hilton pelos EUA e cobra Itamaraty
Governo Trump classificou documento da parlamentar trans como sendo do masculino

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
O presidente Lula (PT) chamou de "abominável" a mudança de gênero da deputada Erika Hilton (PSOL-SP) imposta pelo governo de Donald Trump em seu visto para entrada nos Estados Unidos.
Ao rechaçar o episódio, o petista também cobrou uma posição oficial do Ministério das Relações Exteriores acerca do caso.
"O que aconteceu com você [Erika], na minha opinião, é abominável", disse Lula. "Você não foi pedir mudança de sexo, você foi pedir passaporte para fazer uma viagem aos Estados Unidos. Era isso que eles deveriam ter dado. E defender isso é defender a soberania brasileira. É o mínimo que a gente espera", prosseguiu Lula durante cerimônia nesta quinta-feira (24) no Palácio do Planalto.
Ao lado da ministra Cida Gonçalves (Mulheres) e de outras deputadas, Erika Hilton acompanhou a sanção de leis de proteção a mulheres.
Em 16 de abril, ao disponibilizar o visto para a parlamentar, o governo dos Estados Unidos apontou como masculino o gênero dela. Erika é uma das duas primeiras parlamentares trans da Câmara dos Deputados.
A congressista chamou a ação do governo norte-americano de "transfobia de Estado". A determinação foi assinada por Trump no começo deste mandato. Erika havia conseguido um visto de acordo com a autodeterminação de gênero feminino em 2023, na gestão Joe Biden.
O encontro com Lula ocorreu um dia após ela se reunir com o chanceler Mauro Vieira para falar do impasse em torno do visto dela. Ao presidente, ela afirmou que a conversa com o ministro das Relações Exteriores não foi agradável.
"Falei para o presidente [Lula]: 'Olha, eu não estou esperando que se crie uma guerra, que se dê sanção aos Estados Unidos, que se puna, nem que se peça para retificar o meu passaporte, não quero briga com os Estados Unidos. Agora a gente não pode ser tratada como [se estivesse] em uma república das bananas'", disse.
Lula afirmou ter falado com Mauro Vieira e cobrou do auxiliar uma "nota mostrando a inconformidade do Brasil com a ingerência de uma embaixada no passaporte de uma brasileira".
No encontro com as parlamentares, Lula aconselhou que o Congresso Nacional também se manifeste e mandou uma carta para o Legislativo norte-americano.
O presidente pediu ainda à deputada Benedita da Silva (PT-RJ) que vá até o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos), e junte outras parlamentares para que a Casa se manifeste de modo oficial sobre o caso.