Meirelles lamenta decisão do governo acabar com teto de gastos e vê risco de Lula repetir Dilma
Ex-presidente do BC teme que presidente petista leve o país a recessão
Foto: Valter Campanato/Agência Brasil
Escolhido por Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para comandar o Banco Central há 20 anos, o ex-banqueiro de 77 anos, Henrique de Campos Meirelles, diz ver com preocupação a condução da economia pelo petista. Para ele, Lula optou seguir uma linha semelhante ao que foi adotado pela ex-presidente Dilma Roussef (PT), de 2011 a 2016, até sofrer impeachment, em vez de reeditar a política dos dois mandatos anteriores.
“O Lula começou a anunciar, logo depois da eleição, uma política na linha do que foi o governo da ex-presidente Dilma, que levou o Brasil a uma recessão muito grande. É um risco que corremos”, alerta Meirelles, em entrevista ao Metrópoles.
Meirelles também lamentou a decisão do petista em acabar com o teto de gastos e disse enxergar problemas no novo arcabouço fiscal. Segundo ele, o modelo é "complexo" e "de difícil execução".
"O arcabouço fiscal é uma versão bem mais flexível do teto de gastos. Com o teto, havia simplesmente uma limitação dos gastos à inflação do ano anterior e ponto final. Quando respeitado, sem emendas constitucionais que permitissem algumas alterações, o teto estava levando a uma diminuição da relação dívida/PIB e, consequentemente, a uma redução das despesas primárias em relação ao PIB. O arcabouço é procíclico, ou seja, teremos um gasto maior quando houver uma expansão maior da arrecadação. Isso já causa um certo desequilíbrio. As contas, de fato, não fecham, a não ser que haja um aumento de receitas de pelo menos R$ 150 bilhões por ano. É um número bastante otimista", explica.
Na entrevista, o ex-chefe do BC também critica eventuais mudanças na Lei das Estatais e afirma que o bombardeio do governo Lula sobre a gestão do presidente do BC, Roberto Campos Neto, dificulta a queda dos juros.
"A Lei das Estatais foi muito importante para trazer maior profissionalização e eficiência à administração das estatais. A reforma trabalhista também foi muito importante. Ela precisa ser aperfeiçoada, precisa de avanços, porque hoje nós temos os entregadores do comércio eletrônico e novas profissões que precisam ser reguladas, mas tudo isso foi um avanço muito grande na economia. Agora estão tentando voltar atrás, inclusive por alguns interesses mais paroquiais ou questões políticas. Mas é importante lembrar que qualquer mudança tem de passar pelo Congresso. Espero que não haja esse recuo nos termos em que está se falando. Costumo dizer que há o discurso e o fato. O discurso, realmente, está muito ruim. Mas o fato, às vezes, é um pouco melhor que o discurso. Precisamos ter segurança e todos trabalharmos para que não ocorram esses retrocessos, que seriam muito ruins para a economia brasileira", disse.
“O BC está fazendo um trabalho correto, adequado. Esse barulho todo é até compreensível do ponto de vista político, mas é negativo no aspecto econômico e de política monetária”, afirma.