MP e PF investigam votos em cidade no RJ com mais eleitores que habitantes
Mangaratiba, localizada na Costa Verde do estado, teve transferência massiva de eleitores de outros municípios fluminenses
Foto: Reprodução/TV Globo
O crescimento expressivo de eleitores em Mangaratiba, localizada no Rio de Janeiro, virou alvo de investigação do Ministério Público e da Polícia Federal. Atualmente, a cidade tem mais eleitores (46.874) do que população (41.220), segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O caso foi divulgado pelo Fantástico, no domingo (24).
O município abriga mais de 50 praias e três ilhas na costa verde do estado, e é famoso por ser um antigo ponto turístico de artistas. Só de janeiro a maio, mais de 5,5 mil pessoas pediram à Justiça Eleitoral para transferir títulos para Mangaratiba. As inconsistências identificadas eram tantas que cerca de 1,5 mil foram negadas.
A suspeita é de um esquema de fraude nas transferências, onde pessoas que moram em outras cidades receberem dinheiro ou outras vantagens para fazer a mudança do título de eleitor, fingindo morar ou trabalhar na cidade. A explosão de eleitores levou à criação de 27 locais de votação.
“Chegou um momento que encheu tanto [o local para registro do título de eleitor] que não cabia mais gente no corredor. Tiveram que descer com a fila lá para a porta do fórum, para a rua, com distribuição de senha”, disse a promotora Débora de Souza Becker Lima, ao Fantástico.
A eleição foi decidida pela diferença de apenas 125 votos. O candidato que perdeu, Aarão Moura (PP), entrou com uma notícia crime no Ministério Público. O prefeito eleito, que também é vice-presidente da Escola de Samba Mocidade Independente de Padre Miguel, Luiz Cláudio, do Republicanos, e o vice Lucas Venito, do PL, são investigados.
Luiz Cláudio (à esquerda) e Lucas Venito (à direita)
Reprodução
Segundo as investigações, os eleitores de outras localidades recebiam R$ 100 para transferir o título e outras quantias para votar em determinados candidatos. Entre as provas apresentadas por Aarão Moura, estão dezenas de conversas em grupos montados para tratar da logística no dia da votação.
Sem se identificarem, pessoas que venderam os votos disseram ao Fantástico que sabiam que o esquema configurava crime eleitoral. Conforme a reportagem, os eleitores eram monitorados e tinham de informar quando estavam chegando à seção eleitoral, além de enviar fotos dos comprovantes de votação para que o pagamento fosse feito.
Em nota, a defesa do prefeito eleito disse que o candidato derrotado busca "criar narrativas e disseminar desinformação para tumultuar o legítimo resultado do pleito."