Narcossubmarinos se estabelecem no Atlântico com ajuda brasileira
Foram encontrados “cobertores, roupas e comida brasileira” no interior da embarcação
Foto: The Guardian/Amazônia
A descoberta de dois narcossubmarinos carregados de cocaína em menos de um mês na Colômbia e na Espanha evidencia a evolução de uma tecnologia para transporte de droga em rotas no Oceano Atlântico e Pacífico por cartéis sul-americanos. Um deles, encontrado em Arousa, na Espanha, teria saído do Brasil carregado de droga.
Investigadores disseram que foram encontrados “cobertores, roupas e comida brasileira” no interior da embarcação. O segundo foi achado à deriva na costa da Colômbia, com 2,6 toneladas de cocaína e dois corpos.
O uso dos chamados narcossubmarinos no tráfico de drogas é conhecido pelas autoridades colombianas e americanas pelo menos desde 2006. “Há muito tempo que os narcotraficantes estavam usando submarinos para cruzar o Atlântico, mas nenhum havia sido apreendido até 2019.
Hoje os submarinos se tornaram uma prática comum no narcotráfico. Agora, todos os anos entre 30 e 40 são interceptados na Colômbia”, disse ao Estadão Javier Romero, especialista em narcotráfico na Galícia.
Submarinos apreendidos
Na quarta-feira, o Ministério Público colombiano prendeu mais 12 pessoas suspeitas de envolvimento com a construção de submarinos usados para o narcotráfico. A investigação foi realizada em conjunto com a Guarda Civil da Espanha, o que indica que os suspeitos construíram a embarcação encontrada em Arousa. Segundo os promotores, os veículos construídos pelo grupo também são utilizados na rota do Pacífico, que leva a cocaína da Colômbia à América Central e aos EUA.
A investigação também apontou que o grupo não age somente na Colômbia, mas também em outros países da América do Sul, incluindo o Brasil. Essa difusão na produção indica uma característica cada vez maior: a descentralização.
O relatório da UNODC aponta que o narcotráfico, antes controlado por poucos cartéis, expandiu sua estrutura e passou a agregar uma cadeia de atores para funcionar de forma mais eficiente e dificultar investigações. Segundo a entidade, o narcotráfico passou a terceirizar funções, a tecer parcerias com outras organizações e a se especializar em determinadas logísticas.
Os cartéis mexicanos, notadamente o Cartel de Sinaloa e o Cartel de Jalisco Nova Geração, continuam os mais poderosos no controle do corredor de drogas do México até os EUA. Nas rotas transatlânticas para a Europa, a estrutura é controlada por cartéis colombianos com grande colaboração do PCC. Segundo a UNODC, a organização brasileira se expandiu na última década e adquiriu um papel importante no transporte da droga, estando presente na África e no continente europeu.