O amargo legado do abandono escolar
Confira nosso especial deste sábado (30)
Foto: Reprodução
O abandono escolar, como era de se esperar, é uma amarga consequência do primeiro ano de pandemia da covid-19. Fora do âmbito escolar, crianças e adolescentes perderam praticamente todas as motivações que o conceito de educação básica proporciona além do aprendizado formal por meio de matérias.
É o que escancara o recém-lançado estudo “Enfrentamento da cultura do fracasso escolar”, do Fundo das Nações Unidas para Infância (Unicef). Em 2019, mais de 620 mil abandonaram a escola no Brasil e mais de 6 milhões estavam em distorção idade-série.
O perfil, lamentavelmente, é aquele que se repete ao longo de décadas no país: concentram-se nas regiões norte e nordeste. São muitas vezes crianças e adolescentes negros e indígenas ou estudantes com deficiências.
Não à toa, inclusive, que com a pandemia da covid-19, foi esse, também, o grupo de estudantes que enfrentou as maiores dificuldades para se manter aprendendo – agravando as desigualdades no país. Mais de 5,5 milhões de crianças e adolescentes não tiveram atividades escolares em 2020.
Neste contexto, outro problema é posto à mesa: o fracasso escolar. Ele começa com o estudante sendo reprovado uma vez. Seguem-se outras reprovações, abandono, tentativa de retorno às aulas, até que ele entra em uma situação de “distorção idade-série”, com dois ou mais anos de atraso. Sem oportunidades de aprender, o aluno vai ficando para trás, até ser forçado a deixar definitivamente a escola.
A dinâmica é muito bem explicitada pelo chefe de Educação da Unicef Brasil, Ítalo Dutra. Ele fala em uma “naturalização do fracasso escolar” no Brasil, fazendo com que a sociedade aceite que um perfil específico de estudante passe pela escola sem aprender, sendo reprovado diversas vezes até desistir.
Para mudar essa realidade, recomenda-se que haja um esforço conjunto de governo, sociedade e comunidade escolar para conhecer a fundo o problema, debater as diversas visões e enfrentar a cultura do fracasso escolar.
A escola precisa ser um lugar onde se conhecem, se debatem, se constroem e se reconstroem conhecimentos sem ameaças. É preciso rever os currículos, a avaliação das aprendizagens e os cotidianos escolares, criando espaços inclusivos, em que todos tenham direito a trajetórias de sucesso escolar.