Pacientes aguardam vagas para hemodiálise enquanto enfrentam limitações diárias na Bahia
Mais de 8 mil pessoas fazem o procedimento pelo SUS no Estado
Foto: Agência Brasil
Na Bahia, 108 pacientes cadastrados no Sistema Estadual de Nefrologia aguardam vaga para hemodiálise. De acordo com a Secretaria Estadual da Saúde da Bahia (Sesab), 42 unidades realizam a terapia renal substitutiva no estado.
Questionados pelo Farol da Bahia sobre o porquê do alto número de pacientes que aguardam o atendimento e o tempo médio de espera, a pasta não respondeu. Apenas informou sobre o incremento de 25% no valo repassado às clínicas de hemodiálise com o Programa Cofinanciamento Estadual na Atenção Especializada às Pessoas com Doença Renal Crônica.
Segundo a Secretaria, o valor por sessão de hemodiálise repassado pelo Sistema Único de Saúde (SUS) às clínicas é de R$218,47. Com o incremento do Estado, o valor passa a ser de R$273,08.
Ao todo, 8.895 pessoas fazem a hemodiálise pela saúde pública no estado. Dentre esse número, está o aposentado, Ednaldo Salles, que faz o procedimento há 30 anos após um choque elétrico aos 10 anos de idade.
“Eu fiquei sabendo só depois que o choque causou a insuficiência renal crônica. A partir daí tive que fazer o procedimento três vezes por semana, por 4 horas, até os dias de hoje”, conta.
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A hemodiálise salvou a vida de Salles, mas foi um processo penoso durante a infância. “Tive muitas limitações, quando comecei era uma máquina que causava a perda peso, eu vivia com câimbra, com muita dor de cabeça. Às vezes até perdia aula”.
A hemodiálise é realizada em pessoas com problemas renais graves, quando o funcionamento dos rins está severamente comprometido. De acordo com o médico nefrologista André Luís Sousa, normalmente é indicado quando o desempenho está abaixo dos 15%. "Para o indivíduo sobreviver, precisa de um procedimento que substitua o papel dos rins até que eles se recuperem ou até que o paciente receba um transplante.”, explica.
Casos como o de Ednaldo Salles, são mais difíceis de recuperar o órgão, diferente do que ocorre com a insuficiência renal aguda. “Na insuficiência renal crônica a maioria das vezes o rim não recupera. Nestes casos, o paciente precisa de um transplante. Já na insuficiência renal aguda a gente pode esperar o rim voltar a funcionar e suspender o procedimento”, explica o nefrologista.
Aos 18 anos de idade, Ednaldo Salles, recebeu um novo rim doado por seu tio, mas o corpo rejeitou. Desde então, decidiu manter o procedimento da hemodiálise realizado semanalmente pelo SUS em Camaçari.
Com a rotina constante do procedimento, coisas comuns como trabalhar e viajar, em alguns casos, se tornam difíceis para os pacientes. Mas, apesar das limitações causadas e do medo pelo processo, o nefrologista André Luís Sousa, ressalta que hoje é também um local de apoio mútuo.
“São pessoas que estão ali sabendo que existe uma limitação, física, emocional, mas são pessoas que estão fazendo amizades, agradecendo a Deus por ter esse método de substituir a função dos rins e tão garantindo essas pessoas vivas. Pessoas respirando bem, pessoas com uma qualidade de vida relativamente razoável, podendo concorrer a um transplante ou migrar para outro tipo de diálise. Ao contrário do que muita gente pensa, o clima não é de tristeza”, afirmou.
Sousa ressalta que o serviço deve ser ofertado por uma equipe multidisciplinar que dê suporte também emocional aos pacientes.
Hemodiálise
O procedimento assusta as pessoas, já que uma máquina faz o papel dos rins que é filtrar todo o sangue do corpo e eliminar as impurezas. O processo varia de cada paciente e condição.
“A hemodiálise é realizada através de uma máquina onde vai ter um acesso vascular, um cateter como se fosse um canudinho que é colocado em um vaso sanguíneo ou então através de uma cirurgia que é realizada no braço pra que a veia possa se dilatar. Ele vai ser utilizado para tirar uma quantidade de sangue do paciente, esse sangue vai ser passado na máquina de diálise. Em última instância esse sangue tem que ser passado no filtro e é nesse e é nesse filtro que vai acontecer as trocas entre a solução de diálise que a gente coloca na máquina e o sangue do paciente. Então, a hemodiálise vai retirar do paciente as impurezas, o lixo metabólico. E em seguida o sangue é devolvido pro corpo", explica o nefrologista André Luís Sousa.
O sangue é retirado em pequenas alíquotas de 300 a 400ml para o processo. "A gente vai fazendo esses ciclos e o sangue do paciente vai sendo purificado e a hemodiálise vai fazendo o papel dos rins. O mais utilizado são três sessões semanais e por um período de quatro horas cada sessão. Mas, a prescrição de hemodiálise é muito individual, depende de cada paciente, do peso, da altura, depende se ele tem ou não problemas cardíacos. Então, uma prescrição nunca é generalizada”, finalizou.