Parque Pedra de Xangô: patrimônio é ameaçado com descasos
Denúncias apontam problemas na infraestrutura e cuidado do local
Foto: Reprodução / Instagram
Entregue há pouco mais de um ano, o Parque Pedra de Xangô, localizado na poligonal da Área de Proteção Ambiental (APA) Vale da Avenida Assis Valente, em Cajazeiras X, tem sofrido alguns descasos como falta de luz e esgoto no local. Segundo denúncias ao Farol da Bahia, atividades culturais foram suspensas por falta de energia causada por queima dos disjuntores internos.
De acordo com advogada, mestra e doutoranda em arquitetura e urbanismo UFBA, Maria Alice Silva, também autora do livro Pedra de Xangô: um lugar sagrado afro-brasileiro na cidade de Salvador, esgotos dos conjuntos habitacionais do entorno da Pedra chegam até o monumento sagrado.
Além disso, as reclamações se estendem a criação da APA. “O processo administrativo foi concluído em 04 de dezembro de 2020 e até hoje o prefeito Bruno Reis ainda não assinou o decreto, o que torna 401 hectares de área de remanescente de Mata Atlântica, conquistado pelas Comunidades de Terreiros no PDDU de 2016 [Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano] totalmente vulnerável”, afirma Maria Alice.
A denúncia aponta ainda outros pontos do projeto arquitetônico para o Parque que não foram realizados, como por exemplo: a falta de edificação de um espaço destinado a rituais, a não implantação do telhado verde e do memorial contando a história do povo de terreiro, na defesa da Pedra de Xangô.
A ausência de uma proposta de educação ambiental e de um Plano de Manejo, também são indicados como necessários para a manutenção e funcionamento do local.
“A divergência entre os critérios estabelecidos em memorial e o efetivamente executado é de relevância significativa, vez que o não atendimento às regras estabelecidas comprometem não só a qualidade do Projeto de Arquitetura Paisagística, como descaracteriza o conceito singular proposto entre natureza, arquitetura e espiritualidade”
A advogada Maria Alice informou que essas questões – referentes ao projeto arquitetônico, foram encaminhadas à Fundação Mário Leal Ferreira (FMLF) que é responsável pelo projeto. Ao Farol, a FMLF confirmou que recebe demandas e que são respondidas quando referente ao projeto. E que o parque é gerido pela Secretaria Municipal de Sustentabilidade e Resiliência (Secis).
Até a publicação desta matéria, o Farol não teve resposta da Secis.
Em nota, a Coelba informou que o fornecimento por parte da distribuidora está normal. Já a Embasa, também em nota, diz que no Parque tem uma estrutura de drenagem pluvial e não há lançamento de esgoto no local.
“No entanto, quando há lavagem no pátio próximo à Pedra, a água é escoada pela drenagem até um pequeno lago que integra o conjunto paisagístico do parque”, finaliza.
Parque Pedra de Xangô
O Parque Pedra de Xangô, foi inaugurado em maio de 2022. Neste ano, o monumento completa seis anos como Patrimônio Cultural da cidade.
Coordenado pela Fundação Mário Leal Ferreira (FMLF), o projeto urbanístico do Parque Pedra de Xangô teve a colaboração da comunidade local, especialmente de representantes do povo de santo, acadêmicos, pesquisadores e ambientalistas.
O Parque preserva uma vegetação remanescente de Mata Atlântica, o que confere ao local um caráter sagrado e de preservação do meio ambiente. Essa proteção ambiental também tem a importante função de evitar a derrubada de árvores para a implantação de loteamentos clandestinos em áreas de proteção.
“O Parque Pedra de Xangô é fruto de uma luta do Povo de Terreiro que durante 17 anos realizaram caminhadas, amalás, xirês, ossés e outros rituais no entorno do monumento sagrado, com a finalidade de manter vivo o legado ancestral”, afirma Maria Alice.