Pesquisa detalha dinâmicas de circulação do coronavírus no Brasil; veja
Maior parte das introduções do vírus ocorreu antes da implantação de medidas restritivas
Foto: Anna Shvets / Pexels
Liderado pelo Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), Instituto Butantan e Universidade de São Paulo (USP), um artigo recém-publicado na revista Nature Microbiology aponta que a maior parte das introduções do coronavírus no Brasil ocorreu antes da implantação de medidas restritivas, como fechamento de escolas e negócios.
A maioria das cepas foi introduzida a partir da Europa, com uma estimativa de 114 introduções independentes antes de abril de 2020. No período mais intenso de restrições, de abril até agosto de 2020, 33 introduções do coronavírus foram registradas. Apesar do grande número de importações, houve aproximadamente 10 vezes mais eventos de exportação de linhagens do Brasil para o exterior, considerando todo o período analisado.
Primeira autora do artigo, a pesquisadora visitante do Laboratório de Flavivírus do IOC/Fiocruz, Marta Giovanetti, ressalta que a passagem do país de importador a exportador do coronavírus está ligada à rápida capacidade de dispersão do patógeno no território brasileiro.
“Isso foi observado também em outros países. Os primeiros casos confirmados foram ligados à importação direta. Depois da implementação de medidas restritivas no Brasil e em outros países do mundo, o número de introduções se reduziu, mas houve grande transmissão comunitária no país”, explica Marta.
A disseminação do coronavírus se tornou mais intensa após o relaxamento das restrições e atingiu um pico no período de circulação de duas variantes que emergiram no Brasil, chamadas de Gama (P.1) e Zeta (P.2). Em linha com o observado em outras pesquisas, o estudo indica que a variante Gama emergiu provavelmente em Manaus no final de novembro de 2020. Já a variante Zeta – identificada pela primeira vez no Rio de Janeiro em outubro de 2020 – provavelmente teve origem no Paraná no mês de agosto.
No total, a pesquisa sequenciou mais de 3,8 mil genomas do Sars-CoV-2 referentes a casos registrados em oito estados brasileiros entre fevereiro de 2020 e junho de 2021. O volume de sequenciamentos representa cerca de 20% do total de genomas decodificados no Brasil no período do estudo.
Nas análises, os pesquisadores também analisaram cerca de 13 mil genomas disponíveis em bancos de dados públicos referentes a casos registrados no país no período, alcançando um total de aproximadamente 17 mil genomas.