Planeta registra recordes de calor nos polos
Na última sexta (18), a Antártica e o Ártico registraram altas temperaturas, alardeando climatologistas
Foto: Reprodução/Michael Studinger/Nasa
Os polos do planeta Terra registraram recordes de temperatura nesta semana. A Antártica e o Ártico apresentaram um calor pelo menos 30ºC maior do que a média para esta época do ano. Climatologistas apontam que o cenário é inédito, mesmo sendo previstos por cientistas como uma das consequências da atual "era" de emergência climática.
As duas regiões do planeta possuem características próprias e reagem às mudanças do clima de forma diferente. O Ártico é um oceano coberto por uma camada de gelo marinho, cercado por três continentes - Ásia, América do Norte e Europa. Já a Antártica é um continente por si só, cercado pelo oceano.
A Antártica registrou um recorde recente de temperatura na última sexta-feira (18), com –11,5ºC (ou seja, 11,5ºC negativos), sendo que o esperado para essa época do ano é pelo menos - 50ºC (50ºC negativos), em média. Essa região é considerada por cientistas a mais fria do planeta.
A plataforma "Climate Reanalyzer", da Universidade do Maine, nos Estados Unidos, salienta que todo o continente antártico estava, em média, 4,8ºC mais quente do que a temperatura de referência registrada entre os anos de 1979 e 2000.
"Imagina um platô polar que está a 3 mil metros de altura, que deveria estar a - 50ºC, - 45ºC, e de repente vai a -11ºC. E esse -11ºC nunca foi visto, pelo menos não desde 1957, 1958, quando passamos a ter estação naquela região", afirma o pesquisador Francisco Eliseu Aquino, o Chico Geleira, que já esteve 18 vezes na Antártica. Ele é integrante do Centro Polar e Climático da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
De acordo com Chico Geleira, esse recorde de temperatura é inédito e, além disso, o fato de a temperatura variar tanto quase "no fim do mundo" surpreendeu os pesquisadores. Essa chegada de uma onda de calor à região congelante por natureza é um sinal dos impactos da emergência climática, declara.
"Nós estamos indo do outono em direção ao inverno, que lá é muito pronunciado. Nós não esperamos onda de calor por lá nem no verão", explicou. "Para isso acontecer, a circulação atmosférica precisou se organizar de uma forma muito intensa, induzindo um ciclone extratropical para levar ar quente e úmido da região tropical até o interior da Antártica. É como se você tivesse um rio voador de umidade indo para o interior do platô polar", completou.
Recordes no Ártico
Durante medições pontuais realizadas em estações do Ártico foi constatada temperaturas até 30ºC mais altas do que o previsto para essa época do ano. Na última sexta-feira (18), toda a região estava em média 3,3ºC mais quente do que o período de 1979 a 2000, conforme a "Climate Reanalyzer".
Devido ao Ártico ser um oceano coberto por uma camada de gelo e apresentar outra dinâmica, esse outro ponto extremo do frio do plane já vem registrando ondas de calor há algumas décadas, mas apesar da recorrência, isso não significa que o fenômeno é inócuo e não possa ter consequências da crise climática.
"Em alguns anos, durante o verão, a extensão do gelo caiu mais de 40% do que seria a média esperada. Nós estamos vendo o desaparecimento no auge do verão, isso é setembro, de grande parte do oceano Ártico. Ou seja: a cobertura de gelo do oceano Ártico está cada vez menor", explica Jefferson Simões, coordenador-geral do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia da Criosfera.
Chico Geleira alerta que a atual situação do Ártico induz a ondas de calor no sul da Europa, na Ásia e na América do Norte, como as que foram vistas em 2021.