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Português brasileiro tem nota menor e rende discriminação em escolas e universidades de Portugal

Brasil e Portugal têm o mesmo idioma oficial

Por Da Redação
Ás

Português brasileiro tem nota menor e rende discriminação em escolas e universidades de Portugal

Foto: Getty images

Alunos e responsáveis que estudam em escolas e universidades portuguesas relatam episódios de notas mais baixas e de discriminação por causa do português brasileiro. Brasil e Portugal têm o mesmo idioma oficial. 

Em entrevista à Folha de São Paulo, a psicóloga Adriana Campos contou que por causa da pandemia, a filha está tendo aulas online. Durante uma conversa entre a estudante e a professora de português, ela notou que a jovem questionou o motivo de ter tirado uma nota menor do que a colega portuguesa com quem fizera um trabalho em dupla. “A professora falou que o trabalho estava excelente, elogiou a criatividade das duas, mas disse para a minha filha: 'só que você, infelizmente, ainda fala esse português inapropriado, esse português brasileiro. E você precisa aprender a falar direito'. Eu não conseguia acreditar”. 

Segundo ela, a mesma professora já havia protagonizado, meses antes, um outro episódio de discriminação linguística com a adolescente, quando ridicularizou seu sotaque. “A professora estava fazendo algumas perguntas para os alunos. Quando chegou a vez da minha filha, ela disse que a dicção dela estava muito ruim, que ela não sabia falar bem. Mas o problema não era a dicção, era o sotaque. A professora mandou a minha filha colocar um lápis na boca para treinar e ‘aprender a falar melhor’”.

Aluna de doutorado em psicologia na Universidade de Coimbra, Adriana diz que procurou a escola nas duas ocasiões, mas que a professora se limitou a justificar seu comportamento alegando seguir as orientações do Ministério da Educação, sem especificar detalhes.

Mas o fenômeno, que é confirmado por educadores, não parece ter sido suficiente para mudar o tratamento de inferiorização do português do Brasil relatado em algumas escolas. 

Embora o tema do preconceito linguístico seja objeto de conversas recorrentes entre os brasileiros no país, incluindo em associações de direitos imigrantes e relatos nas redes sociais, não há registro de queixas oficiais. 

De acordo com a Inspeção-Geral de Educação e Ciência, o órgão não recebeu nenhuma denúncia do tipo. Mas responsáveis e alunos frequentemente se queixam de que é difícil dar seguimento às reclamações feitas às escolas. Como estrangeiros, muitos se dizem sem saber a quem recorrer.

Em nota, o secretário de Estado da Educação de Portugal, João Costa, criticou a existência de qualquer segregação ou discriminação por diferenças no uso do idioma. “Estou secretário de Estado, mas sou linguista. Não posso deixar de comentar que uma imposição dessas [avaliações mais baixas por conta do português do Brasil] não passa de preconceito linguístico, que denota uma grande falta de conhecimento sobre a própria língua. As diferenças entre variantes dialetais também são grandes dentro de Portugal. O português é uma língua pluricêntrica, e isso não pode ser ignorado na planificação do seu ensino”.

Pelos dados mais recentes da Direção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência, referentes ao período letivo de 2018 e 2019, Portugal tinha 129.534 estudantes estrangeiros. Desses, 47.682 (36,8%) são brasileiros.

Um levantamento publicado em abril analisou o desempenho dos estudantes estrangeiros nas escolas do país, a partir das estatísticas oficiais dos alunos do 3º ciclo em 2016-2017. Das 404 escolas analisadas, mais de um terço segregava os estudantes migrantes em turmas com muito mais alunos estrangeiros.

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