Quilombo de Mãe Bernadete: Geraldo Júnior afirma que discutirá denúncia sobre fábrica de sapatos
Defesa diz que governo prometeu fábrica, mas entregou colônia penal dentro do território
Foto: Farol da Bahia/Reprodução
O vice-governador da Bahia, Geraldo Júnior, informou nesta segunda-feira (18) que vai levar até o governador Jerônimo Rodrigues a denúncia sobre um presídio que teria sido instalado dentro do Quilombo Pitanga dos Palmares, em Simões Filho, com a promessa de uma fábrica de sapatos.
No domingo (17), quando se completou um mês da morte da líder quilombola Bernadete Pacífico, o Farol da Bahia divulgou uma matéria que traz a denúncia da família e da defesa da ialorixá sobre o governo estadual ter instalado a Colônia Penal de Simões Filho dentro do quilombo com a promessa de entregar uma fábrica de sapatos.
Nesta segunda, durante coletiva, o vice-governador respondeu uma pergunta sobre o caso.
"Eu recebi essa informação [a denúncia] aqui hoje através de uma sinalização interposta da imprensa. Amanhã mesmo vou pedir uma reunião e um retorno da PGE [Procuradoria-Geral do Estado da Bahia] e tão logo do governador Jerônimo Rodrigues, assim que ele pouse aqui na nossa cidade, vou estabelecer essa tratativa com ele", pontuou Geraldo Júnior.
Denúncia
Há um mês, a Bahia registrou a 11ª morte de uma liderança quilombola no intervalo de 10 anos. Mãe Bernadete, até então líder do Quilombo Pitanga dos Palmares, foi assassinada no dia 17 de agosto, dentro da própria casa, com mais de 20 tiros, sendo 12 no rosto. A ialorixá lutava pela titulação dos 854,2 hectares do território. Em 2007, no entanto, dentro da comunidade, foi instalado um presídio, com capacidade para 250 presos. A Colônia Penal de Simões Filho, inicialmente, foi apresentada para a população pelo Governo do Estado como uma fábrica de sapatos. Os moradores da região alegam que a instalação do equipamento levou o tráfico e a disputa entre facções para a localidade.
Alguns dias depois da morte da ialorixá, o governador Jerônimo Rodrigues afirmou que a Polícia Civil trabalhava com três teses para o assassinato de Bernadete Pacífico. Além das hipóteses de briga por território e intolerância religiosa, a mais destacada seria a de disputa de facções criminosas.
David Mendez contesta a afirmação do gestor estadual. “Essa fala lamentável do governador atribuindo de maneira temerária e leviana a responsabilidade pelo assassinato brutal de dona Bernadete a facções criminosas e ao tráfico de drogas nada mais é do que a materialização do chamado racismo e do chamado racismo institucional”, pontuou o profissional.
Mendez ressalta que se há tráfico e facções criminosas no território, a responsabilidade é direta do governo. Segundo ele, a insegurança foi levada para a comunidade a partir da instalação do presídio na comunidade.