Ramagem nega ação para ajudar Flávio Bolsonaro e atrela operação da PF a eleição no Rio
O caso das "rachadinhas" abordava o possível desvio de parte dos salários dos funcionários do gabinete de Flávio
Foto: Valter Campanato/Agência Brasil
O deputado federal Alexandre Ramagem (PL), ex-diretor da Abin (Agência de Inteligência Brasileira), se manifestou pela primeira vez nesta sexta-feira (12) sobre as investigações da Polícia Federal que prenderam servidores do seu mandato por espionagem indevida, a chamada "Abin paralela", e negou ter atuado para ajudar o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) no caso da "rachadinha".
Nas investigações, a PF citou um áudio, com metadados de 2020, "possivelmente gravado" por Ramagem, em conversa com Bolsonaro e o ministro Augusto Heleno sobre o caso das "rachadinhas" do senador Flávio Bolsonaro.
"Não há interferência ou influência em processo vinculado ao senador Flávio Bolsonaro. A demanda se resolveu exclusivamente em instância judicial", diz o deputado na publicação no X (antigo Twitter).
O caso das "rachadinhas" abordava o possível desvio de parte dos salários dos funcionários do gabinete de Flávio, quando deputado estadual no Rio.
A investigação afirma que, no áudio de uma hora e oito minutos, Ramagem sugere a instauração de um procedimento administrativo contra os auditores para anular a investigação das rachadinhas, bem como retirar alguns servidores de seus respectivos cargos.
Na mesma manifestação em rede social nesta sexta-feira (12), Ramagem diz que "houve finalmente indicação de que serei ouvido na PF, a fim de buscar instrução devida e desconstrução de toda e qualquer narrativa".
Ramagem também afirmou que "fica claro" que a PF despreza os "fins de uma investigação" com o objetivo de "levar à imprensa ilações e rasas conjecturas."
"No Brasil, nunca será fácil uma pré-campanha da nossa oposição. Continuamos no objetivo de legitimamente mudar para melhor a cidade do Rio de Janeiro".
MAL-ESTAR ENTRE BOLSONARISTAS
Circula entre bolsonaristas do Rio de Janeiro a informação de que o ex-presidente não sabia da gravação e ficou contrariado com sua existência.
Apesar disso, eles afirmam que são poucas as chances de Bolsonaro abandonar a candidatura de Ramagem. A avaliação é de que uma troca sinalizaria fraqueza frente as investigações.
O ex-presidente e o senador gravaram nesta sexta-feira (12) vídeo fazendo nova convocação para caminhadas na semana que vem, das quais Ramagem participará.
Contudo, o nome e a foto do pré-candidato nem sequer foram citados na publicação.
Nesta sexta-feira, o ex-presidente reforçou em entrevista à CNN que estará no Rio de Janeiro na próxima semana ao lado do ex-chefe da Abin.
"Estarei no Rio de quinta a sábado da próxima semana. O Ramagem estará comigo", afirmou.
A frágil situação de Ramagem, porém, animou integrantes da campanha do deputado Rodrigo Amorim (União), vista como linha auxiliar do bolsonarismo na disputa pela prefeitura. O objetivo dele é mostrar fidelidade mais longeva ao ex-presidente a fim de atrair seus eleitores.
O relatório da investigação diz que Ramagem tinha "domínio do fato" das medidas realizadas com recursos humanos e materiais da agência. O questionamento das urnas eletrônicas, de acordo com a PF, era prática reiterada nas "ações de desinteligência" do grupo suspeito.
Na quinta-feira (11), a polícia deu início à quarta fase da Operação Última Milha, que prendeu agentes que trabalhavam diretamente para Ramagem.
Em evento em São Paulo nesta sexta-feira (12), o ministro Alexandre Padilha (Relações Institucionais) disse que, no Rio de Janeiro, eventual eleição de Eduardo Paes "vai ser a grande vitória simbólica contra o ninho do bolsonarismo, porque está ali o ninho do bolsonarismo."
"As evidências estão mostrando nessa semana que o candidato do bolsonarismo lá foi o parceiro de crimes envolvendo a Abin", declarou.
Segundo o ministro, as eleições municipais no Brasil, na sua maioria, concentram-se em temas locais, mas algumas vão ser muito simbólicas, citando tanto o caso da agência de inteligência como o indiciamento de Bolsonaro no inquérito de presentes recebidos pelo governo brasileiro.
"Expressam, de um lado, os extremistas de direita, que fazem questão de abraçar o ex-presidente, o ladrão de joias que botou a Abin para perseguir seus adversários, e outras candidaturas que podem e devem, na minha opinião, expressar esse sentimento da frente ampla que foi a eleição do presidente Lula".
Padilha disse ainda que o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), "resolveu abraçar o ex-presidente ladrão de joias", em referência ao fato de os dois estarem juntos na eleição paulistana.