Real 30 anos: Como era a vida antes do plano econômico
Chegada do plano trouxe estabilidade e eliminou o caos inflacionário
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Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil
Há 30 anos, em 1° de julho de 1994, o real era colocado em andamento. A maior marca do Plano Real, foi só a ponta final de um extenso plano econômico que pôs fim a uma era de hiperinflação e constantes trocas da moeda corrente no Brasil.
Dessa época pra cá, o real se desvalorizou. A inflação oficial do país acumulou alta de 708% nesses 30 anos. Em outras palavras, uma moeda de R$ 1 de hoje equivaleria a R$ 0,12 da época.
Governos anteriores haviam lançado um punhado de planos econômicos frustrados, incluindo o rumoroso Plano Collor, que chegou a confiscar o dinheiro da poupança dos brasileiros e forçar um congelamento nos preços para controlar os índices.
Tudo havia dado errado, até chegar o Plano Real. Desenhado por uma equipe econômica composta por nomes, como Fernando Henrique Cardoso, Pérsio Arida, Edmar Bacha, Gustavo Franco, Pedro Malan e André Lara Resende, o novo plano pôs fim à crise inflacionária e deixou a catástrofe de preços na memória.
Contexto histórico
A hiperinflação que o Brasil atravessou antes do Plano Real foi consequência de uma política de expansão de gastos públicos, que aumentou de maneira expressiva o endividamento brasileiro durante a ditadura militar para financiar o crescimento do país.
Mas quando crises globais chegam, as grandes economias também sofrem choques de inflação. Os juros mais altos e o aumento de risco fazem com que o capital de investidores migre para economias mais seguras. Isso piora o câmbio e reduz a oferta interna de produtos em emergentes, como o Brasil
Ao longo dos anos 1980, o endividamento crescente do país se juntou às pressões vindas da economia global e transformou os reajustes de preços em uma bola de neve. Nenhum dos planos econômicos e trocas de moeda conseguia conter a hiperinflação.
Walter Franco, professor de Economia do Ibmec, explica que a loucura dos preços fazia parte do dia a dia do brasileiro. "Era algo muito peculiar. Mesmo se você não fosse letrado ou muito afeito à matemática, você, como cidadão comum do Brasil, entendia o que tinha que fazer", diz.
"O brasileiro sabia, por exemplo, que era melhor comprar o que precisasse logo quando recebesse o salário, e que era bom colocar o pouco dinheiro que tinha em uma aplicação overnight para conseguir um ganho de hoje para amanhã", afirma Franco.
Uma aplicação "overnight", destaca o professor, é um tipo de investimento em que o investidor coloca o dinheiro à noite e recebe o valor já corrigido na manhã do próximo dia útil, corrigido por uma taxa de juros que acompanha a expectativa da inflação.
Essa taxa existe ainda hoje, mas era muito comum nos anos 1980 e 1990 porque garantia, pelo menos, o poder de compra durante a noite. Tanto Gilberto Rodrigues, quanto José Nagib, que compartilharam seus relatos sobre a época com a reportagem, contam que comumente aplicavam dinheiro no overnight.
Segundo Nagib, que tinha comprado um terreno e pagava o financiamento durante o período de hiperinflação, nos dias em que precisava pagar as parcelas, ele só transferia o dinheiro no fim da tarde para garantir que já teria recebido os juros do overnight.