Saída de Moro coloca em discussão possibilidade de impeachment de Bolsonaro
O ex-ministro da Justiça falará na CPI das fake news e parlamentares falam em criar outras linhas de investigação
Foto: Carolina Antunes/PR
Se por um lado a saída de Sergio Moro no ministério da Justiça era esperada, as revelações que fez repercutiram no meio político de variadas formas. No Congresso Nacional, as sugestões são de instalar uma CPI para apurar as acusações, convidar Moro para detalhar sua fala e, ainda em discutir a possibilidade de um impeachment, por crime de responsabilidade. O presidente da CPMI das fake news no Congresso, o senador Angelo Coronel (PSD-BA), já avisou que Moro sera convidado.
"Moro sai deixando claro que Bolsonaro quer interferir na PF. Por quê? Será que a equipe atual descobriu algo que está incomodando o governo? E disse que Bolsonaro quer alguém de sua confiança na PF para obter diretamente informações. Qual objetivo disso? Não é papel da PF esse tipo de serviço", falou Coronel.
A ex-líder do governo de Bolsonaro na Câmara dos Deputados, Joice Hasselman, lembrou ter anunciado interferências, imoralidades e ilegalidades do governo. "Tudo o que eu disse quando saí da liderança do governo foi dito também por Moro, só que dessa vez a traição não foi numa simples liderança, mas num sistema de justiça! Agora quem sabem todos entenderão", registrou.
A presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, Simone Tebet (MDB) colocou que Moro tem história e histórico para que as declarações dele sejam consideradas. "Moro afirmou taxativamente que o presidente queria intervir politicamente na PF, ter acesso indevido a inquéritos e produzir relatório de inteligência, sabe-se lá contra quem. Este filme nós já conhecemos. Estas acusações , se comprovadas, são gravíssimas, e podem caracterizar crime de responsabilidade. O Presidente da República deve uma explicação à Nação”, defendeu.
A líder do PCdoB na Câmara, deputada Perpétua Almeida (AC), anunciou que encaminhará um pedido de convocação de Moro para que ele esclareça aos deputados “o conjunto de crimes que presenciou o presidente Bolsonaro cometer”. Do mesmo partido, Alice Portugal (BA), coloca que a entrevista de Moro traz material para impeachment inquestionável. “Moro afirmou que o presidente quer pedir relatório de inteligência à PF. Seria o primeiro impeachment 100% inquestionável da história do Brasil. Isso não foi uma coletiva, foi uma delação premiada”. Orlando Silva (PCdoB-SP) disse que vai propor uma CPI.
O ex-presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, sugeriu que Bolsonaro "renuncie antes de ser renunciado". "Poupe-nos de, além do coronavírus, termos um longo processo de impeachment. Que assuma logo o vice para voltarmos ao foco: a saúde e o emprego. Menos instabilidade, mais ação pelo Brasil", escreveu nas redes sociais. O presidente do Psol, Juliano Medeiros já se adiantou em dizer que é favorável ao impeachment, com apoio da oposição e da sociedade civil.
O deputado federal Arthur Maia (DEM-BA) entende que Bolsonaro deve uma explicação à nação. "O Congresso Nacional e o STF haverão de fazer prevalecer a justiça do Estado Democrático de Direito, de zelar pela democracia e fazer cumprir a Constituição", registrou.
O líder do Solidariedade na Câmara, Deputado Zé Silva, afirmou que o enfraquecimento e a falta de autonomia das instituições técnicas do Estado brasileiro é preocupante e se evidencia ainda mais com a demissão de mais um ministro. "Sérgio Moro, ex-ministro, escreveu um brilhante capítulo no combate à corrupção e ao crime organizado do Brasil", registra.
Mesmo posicionamento do deputado federal Felipe Francischini (PSL-PR) que falou que com a contribuição dele foram aprovados projetos de combate ao crime na CCJ, como prisão depois da decisão da segunda instância da Justiça, o pacote anticrime, penas mais duras para traficantes.
O ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, aproveitou para apoiar Moro ao reforçar que trabalhou "mais próximo" a ele durante a epidemia. "Outras lutas virão!", escreveu Mandetta.
Mas até Moro foi alvo de críticas por ter sido apoiador da eleição de Bolsonaro. A presidente nacional do PT, a deputada Gleisi Hofmann, disse que "a entrevista de Moro é uma confissão de crimes e uma delação contra Bolsonaro: corrupção, pagamento secreto de ministro, obstrução de justiça e prevaricação. Ele tinha de sair da entrevista direto para depor na Polícia Federal”, denunciou. Ela também estranhou o fato de Moro ter anunciado na coletiva em que confirmou sua demissão que havia feito um pedido ao presidente da República, quando aceitou o convite para integrar o Ministério da Justiça, ainda em 2018. Ele queria uma pensão para a família. Gleisi reagiu: “Moro e Bolsonaro têm obrigação de explicar a tal proteção financeira à família que ele exigiu para ser ministro. Isso é a nova política? Pagar ministro por fora? Isso é crime, gravíssimo. Mais na conta da quadrilha”.
O deputado federal Henrique Fontana (PT-RS) avalia que Moro denunciou "muitos crimes cometidos pelo seu chefe, porém isso não apagará o fato de ter sido membro da quadrilha". Mas o petista questiona se Moro vai pedir para ingressar no programa de proteção a testemunhas.