Uma semana após ataque hacker, Brasil vive apagão de dados sobre a Covid-19
Organizações de vigilância civil já haviam alertado sobre problemas de segurança, mas nada foi feito para melhorar o sistema
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Desde que sofreu uma série de ataques hackers em seus sistemas na madrugada da última sexta-feira (10), o Ministério da Saúde ainda não resolveu o apagão de dados sobre a Covid-19 causado pela invasão. A derrubada da plataforma pertencente à pasta, afetou vários serviços, dentre eles, a emissão do comprovante de imunização contra o coronavírus por meio do aplicativo ConecteSUS.
A discussão sobre a exigência do comprovante de vacinação estava rodeada de polêmicas entre autoridades quando o ataque ocorreu. Alvo de críticas do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), após determinação do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso, o documento passou a ser obrigatório para viajantes que chegam ao Brasil.
O ataque hacker também impediu o registro da campanha de vacinação no país. Na quinta-feira (16), cerca de 14 estados não disponibilizaram dados sobre doses de vacinas aplicadas. O país, que estava imunizando mais de 1,2 milhão de pessoas por dia, passou a contabilizar uma média de 900 mil após a invasão.
Os dados são do consórcio de veículos de imprensa* e foram analisados pelo (M)Dados, núcleo de análise de grande volume de informações do Metrópoles.
Além de informações sobre vacinação, dados que permitiam o monitoramento da pandemia foram impactados. Há sete dias, os estados de todo o país enfrentam dificuldades para informar o total de novos contaminados e mortos em decorrência do coronavírus. O represamento de informações acaba diminuindo os números da pandemia de maneira superficial, com indicadores apresentando médias de mortes muito mais baixas do que a realidade.
Também na quinta (16), o indicador que demonstra como está a situação dos óbitos no país caiu -34,9%, segundo cálculos realizados pelo (M)Dados, núcleo de análise de grande volume de informações do Metrópoles, com base no balanço divulgado pelo Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass).
Ao menos seis estados, dentre eles São Paulo, tiveram indisponibilidade nos sistemas de informação e não liberaram os dados sobre a Covid-19 – o que fez o indicador despencar e ficar descolado da realidade. Outra informação que não está mais acessível ao público diz respeito ao vírus da influenza, que vem causando um surto em estados como Rio de Janeiro, São Paulo, Espírito Santo e Bahia.
A falta de dados ainda afeta diretamente o InfoGripe, sistema de monitoramento de dados sobre síndrome respiratória aguda grave no Brasil, mantido pela Fiocruz. Em nota divulgada recentemente, a instituição afirmou que, após o ataque recente ao sistema do Ministério da Saúde, não é possível acompanhar os resultados laboratoriais sobre o vírus relativos a novembro nem registros de meses anteriores.
Segundo a instituição, o monitoramento é essencial para auxiliar “as ações dos agentes de saúde nas secretarias municipais, estaduais e no Ministério da Saúde” e para “manter a população informada sobre o cenário epidemiológico atual”.
Segundo o pesquisador em Saúde Pública do Programa de Computação Científica da Fiocruz e coordenador do InfoGripe, Marcelo Gomes, o impacto da falta de informações é imensurável. “Cada semana que não temos acesso às informações são mais vidas perdidas por não podermos monitorar a situação epidemiológica do país”, diz Gomes. “É frustrante.”