Variante brasileira do novo coronavírus preocupa OMS
Pesquisador da Fiocruz Amazonas, participa de reuniões virtuais com a organização
Foto: DIVULGAÇÃO/NIH
A variante brasileira do novo coronavírus, causador da doença Covid-19, vem preocupando a Organização Mundial da Saúde (OMS). O virologista Felipe Naveca, pesquisador do Instituto Leônidas & Maria Deane (ILMD/Fiocruz Amazônia), disse, em entrevista ao portal R7, que participou de três reuniões virtuais com a OMS nas últimas duas semanas e que a maior preocupação está relacionada em saber se essa linhagem é capaz de reinfectar pacientes que já contraíram outras cepas do vírus, se é mais transmissível e se há impacto na gravidade da doença.
"Em todas elas [reuniões], os temas principais eram reinfecção e as novas variantes. [...] A OMS está muito preocupada com isso, foi o tom da reunião agora. A gente não consegue confirmar todos os casos, inclusive está sendo rediscutido o critério para confirmar a reinfecção."
A variante brasileira, assim como as descobertas no Reino Unido e na África do Sul, possui alterações genéticas significativas nas proteínas de superfície que se ligam aos receptores no corpo humano. "O que foi estabelecido [pela OMS] como prioridade absoluta para esses casos é confirmar em exames de laboratório se as novas variantes escapam da neutralização, na África do Sul, acabou de ser divulgado um trabalho que a variante deles escapa de anticorpos anteriores", conta Naveca.
O pesquisador da Fiocruz Amazonas afirma que "chama muito atenção o fato de que, de maneira independente, mutações nas mesmas posições [de genes] ocorreram. Isso é um sinal de que tem alguma vantagem para o vírus". Ele explica como, diferente das anteriores, essas variantes são mais "evoluídas". "Fazendo uma analogia simples: a nossa célula seria a porta e a fechadura seria o receptor [por onde o vírus entra no organismo]. O vírus conseguia abrir aquela porta, mas era uma chave que não era muito boa. Agora, a gente pode ter uma chave que consegue abrir com muito mais facilidade. Por isso chamam muito atenção essas mutações."
Atualmente, estudos estão sendo realizados no Brasil para determinar a prevalência dessa variante nos novos casos de covid-19. Apesar de não haver confirmação oficial desta cepa em outros estados, Naveca afirma que é possível que ela já esteja fora de Manaus, em dezembro, o Japão detectou a linhagem em viajantes procedentes do Amazonas. "Vamos usar o exemplo da Inglaterra. Quando encontraram a variante deles, que é parecida com essa nossa, mas não é a mesma, já estava no país inteiro. Estamos falando do país que é o exemplo mundial de vigilância genômica, de sequenciamento, que faz milhares de vezes mais que a gente faz."
"Independente de ser vírus selvagem ou vírus mutante, se nós tomarmos os cuidados necessários, a gente diminui a circulação dele. Isso é fundamental neste momento", diz, ao reforçar a necessidade das medidas de distanciamento físico e uso de máscara.