Veja como investir em empresas de inteligência artificial

Tecnologia tem se tornado lucrativa recentemente

Por FolhaPress
Ás

Veja como investir em empresas de inteligência artificial

Foto: Rawpick/Freepik

Enquanto as empresas de tecnologia operavam, no início deste mês, no pior patamar desde maio do ano passado, os balanços de certas companhias começaram a mostrar que inteligência artificial já pode ser um negócio lucrativo.

Foi o caso do Google que faturou, no primeiro trimestre deste ano, mais com IA e serviços na nuvem do que com anúncios no YouTube, segundo balanço do último dia 24. Ainda assim, os papéis da empresa tinham se desvalorizado em 15,3% do ano passado até o dia de divulgação dos resultados.

No mesmo período, o índice da Bolsa de Nova York que reúne as maiores empresas de tecnologia do mundo, Nasdaq, desabou 10%, mostrando que o movimento de baixa afetava todo o setor, por causa da conjuntura de aversão a risco causada pela guerra comercial patrocinada por Donald Trump.

Embora pareça uma tendência desfavorável, analistas dizem que o momento de baixa foi e ainda pode ser uma oportunidade para encontrar investimentos, se o dono do dinheiro lidar bem com riscos e souber ler relatórios de resultados das empresas para considerar projeções de lucro e endividamento.

Desde então, as ações da Nasdaq subiram outros 10%, embora não tenham recuperado o valor do início do ano.

"A maioria das ações de tecnologia está apresentando múltiplos [a relação entre preço e lucro reportado] muito melhores do que estava há seis meses", afirma o analista-chefe do Investing.com, Thomas Monteiro.

"Onde está o risco para os investidores? É em não conseguir encontrar as empresas certas para alocar esse capital", diz. O bom analista precisa ir além da marca da empresa e encontrar negócios vantajosos em diferentes países -o setor vai além de ChatGPT, OpenAI, Nvidia, Google e Microsoft.

De acordo com Gustavo Araújo, fundador da consultoria de tecnologia Distrito, existem diferentes nichos dentre os negócios voltados à inteligência artificial. Há as empresas que fazem os microchips como a taiwanesa TSMC, as que fabricam as máquinas para transformar silício em semicondutores como a holandesa ASML, as que desenvolvem os modelos de IA como o Google (que também tem data centers e provedores de nuvem) e aquelas que desenvolveram novas soluções usando a tecnologia, como faz o Duolingo ao oferecer aulas ministradas por assistentes automatizados.

Hoje, há um quase pré-requisito para investir nesse mercado: criar uma conta global para comprar papéis no exterior, sobretudo nos Estados Unidos ou na China. Depois, o investidor precisa decidir se quer aplicar no próprio papel ou procurar um ETF (fundo negociado em Bolsa, na tradução), que é um consórcio de investidores ancorado no valor de uma ação ou de um índice -a âncora, nesse caso, são empresas de IA.

O site da Investing.com lista 82 ETFs nos Estados Unidos, na China e na Europa guiados pelos resultados de companhias de inteligência artificial.

Um deles, o Global X Robotics and Artificial Intelligence ETF (BOTZ39), é vendido em reais pela B3 por meio de BDRs (recibos de depósitos brasileiros) -certificados negociados no Brasil de ações de empresas estrangeiras.

De acordo com o fundo Global X, que tem operação no país, esse mecanismo facilita a operação do investidor que quer ter exposição internacional sem criar conta em outras corretoras e custo de câmbio.

O BOTZ39, por exemplo, reúne ações de empresas dos Estados Unidos, do Japão, da Suíça e da China, que podem se beneficiar do aumento da adoção e utilização da robótica e da inteligência artificial. Ainda mantém reservas em dólares, francos suíços, ienes e iuanes para equilibrar custos com câmbio.

A Global X defende que as ações dessas companhias devem se valorizar, apesar de terem apresentado queda de 3,97% nos últimos 12 meses. Nos últimos dois anos, a alta foi de 16,62%.

"Acreditamos que a exposição em inteligência artificial ainda é uma ótima alternativa, e a via dos ETFs é uma das maneiras mais eficientes de se expor a diversas empresas do setor, tendo diversificação geográfica também", diz o porta-voz da Global X Flávio Vegas.

Os ETFs, apesar da maior segurança, costumam, na média, remunerar menos o acionista, seja por razões de liquidez no mercado financeiro ou pelos custos administrativos do fundo (em geral, mais baixos do que os de um fundo normal que procura oportunidades diversas de ganho).

Outra diferença entre os fundos e as ações negociadas em Bolsa é o custo. Enquanto o BOTZ39 é negociado por menos de US$ 50, o investimento mínimo no Google é de cerca de US$ 160.

Os BDRs também têm uma desvantagem cambial em comparação à compra com moeda estrangeiras em corretoras no exterior. "O movimento natural do real em relação ao dólar ao longo de dez anos é a desvalorização, que a gente pode ver desde o dia em que o real foi implementado até hoje, apesar de algumas flutuações de curto prazo", afirma Monteiro, do Investing.com.

O risco de investir em companhias de alta tecnologia, diz Vegas, é alto. Esses negócios se endividam na tentativa de alavancar lucros no futuro -com os empréstimos custando mais, fica mais difícil equilibrar o balanço contábil. "Um ambiente de incerteza e juros altos pode prejudicar a performance de curto prazo dessas empresas."

Por isso, o preço dos papéis das empresas de tecnologia está no menor patamar em um ano, de acordo com Monteiro. "Quando a economia está um pouco mais pessimista, as pessoas começam a guardar dinheiro investindo em Tesouro, em ouro, sacando dinheiro vivo, tirando poder de fogo do mercado de ações."

De acordo com Monteiro, quem deseja investir em inteligência artificial deve avaliar o quão quente está o mercado olhando os balanços das empresas. "Também é preciso adicionar uma leitura da demanda por IA e microchips, além da concorrência com os chineses, entre outras coisas."

Segundo o analista da Investing.com, mesmo que a inteligência artificial já tenha se consolidado como a base do avanço computacional dos próximos anos, um ambiente mais difícil, com possível recessão dos Estados Unidos e pouco capital, pode afetar o crescimento de inovação em geral.

"Como diz a teoria básica da economia comportamental, o risco é uma ferramenta dos otimistas", diz Monteiro.

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