“A mudança de vibração atingiu a política americana na noite de 5 de novembro. O que ninguém previu é que quase imediatamente ela se tornaria global”, vaticinou Santiago Pliego, ao tentar demonstrar a veloz passagem da época “Woke”, para a ascensão ao poder de Donald Trump, na mais icônica democracia do mundo ocidental.
Numa estonteante velocidade, desencadearam-se mudanças profundas na geopolítica mundial. Niall Ferguson, autor mundialmente reconhecido em razão da profundidade de seus comentários, publicou interessante artigo em 12 de dezembro, resumindo o impacto da vitória republicana: “O eleitorado americano reelege decisivamente Donald Trump. Consequência: o governo alemão cai, o governo francês cai, o presidente sul-coreano declara lei marcial, Bashar al-Assad foge da Síria. Há uma reação em cadeia econômica também. Bitcoin sobe, o dólar sobe, ações americanas sobem, Tesla sobe. Enquanto isso, a moeda russa enfraquece, a China afunda ainda mais na deflação e a economia do Irã cambaleia”.
Sem mencionar outros eventos que afetaram o panorama geopolítico, a exemplo do Oriente Médio, o impacto mundial é visível e notável, como se o novo Presidente norte-americano já tivesse assumido o cargo.
Porém o impacto, visando a restauração da democracia americana, não foi de menor monta. É sobre ele que vamos tratar, deixando para um segundo artigo, a análise dos problemas relacionados com a futura política externa do Governo norte-americano, a qual deita raízes desde o período de Obama.
Destaco, em primeiríssimo lugar, o discurso de Donald Trump sobre a primeira Emenda da Constituição americana, o que equivale dizer que é um mergulho em águas profundas nas tradições e fundamentos da Democracia, imaginada federalista pelos pais fundadores.
O Presidente americano é certeiro e definitivo: “se não temos liberdade de expressão, então simplesmente não temos um país livre”. O consectário do banimento da liberdade de expressão é que “todos os outros direitos e liberdades cairão, um a um”.
Concebida como sustentáculo das liberdades públicas, a livre manifestação do pensamento não estará sujeita a quaisquer restrições emanadas do Estado, e já na solenidade de posse Donald Trump anunciou que assinará uma Ordem Executiva, “banindo qualquer departamento ou agência federal de colaborar com qualquer organização, empresa ou pessoa física para censurar, limitar, categorizar ou impedir o discurso legal dos cidadãos americanos”. Ele também proibiria o uso de dinheiro federal para rotular discursos como “desinformação” ou 'misinformation' (uma informação incorreta deliberada). Essa medida, segundo ele, visa cortar qualquer apoio institucional à censura e garantir que as opiniões dos cidadãos possam ser expressas livremente”.
Esse retorno ao fundamental revigora a Democracia no mundo e a coloca em confrontação com os países alinhados com ditaduras e terroristas, que visam abolir o estado nacional, afrontar os valores políticos do Ocidente e renegar suas tradições religiosas e culturas nacionais.
O novo governo dos Estados Unidos cogita criar um Embaixador da Liberdade de Expressão, o que revela a intenção declarada de influir nas democracias, a fim de evitar a emergência de “democracias totalitárias”, que sobreponham o Estado censor à sociedade civil.
Donald Trump levantou a bandeira do antirracismo em fervoroso discurso de condenação do ante semitismo, convertido nas universidades e outras instituições culturais em instrumento da dissolução do espírito nacional e humanitário. A nova política americana incorpora diferentes e efetivas modalidades para escoimar da vida cultural do país, os focos de disseminação que praticam o racismo e apregoam o desrespeito aos direitos civis, assegurando a igualdade constitucional de todos os norte-americanos.
Esses ventos democráticos, que há longo tempo deixaram de soprar na maior potência do mundo e que moldaram as instituições constitutivas da Democracia Representativa, voltam a soprar com redobrado vigor e, certamente, deixarão mais amenas e agradáveis as titubeantes democracias, que infestam o Ocidente.