A porta do inferno

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A porta do inferno

As sociedades modernas terão que fazer uma escolha inevitável entre a negociação e o compromisso, ou preferir conduzir os conflitos políticos para o terreno da violência revolucionária, esta última cada vez menos atual, aceita, via de regra, em  sociedades atrasadas, nas  quais o tecido social não dá  conta de enfrentar exitosamente os aparatos ideológicos e militares do Estado. 

A tomada do poder por uma classe revolucionária mostrou-se ineficaz nos países altamente industrializados do mundo. Os Estados Unidos experimenta uma rápida e estupenda transformação, sua Constituição resiste a dois séculos de  existência e às mudanças da  sua estrutura econômica e  social. A Grã-Bretanha, apesar de suas diferenças no  cenário capitalista, sobreviveu ao  dinamismo histórico e manteve intacta suas instituições democráticas, tão permanente e flexíveis quanto lhe  exigiu os  tempos de guerra.

O nacional socialismo alemão -e por que não europeu – investiu, a um só tempo contra as tradições cristãs do Ocidente democrático, quanto às concepções da aristocracia tradicionalista e os avanços do capitalismo burguês, rompendo com o passado igualmente ao comunismo. A sua revolução consistia em eliminar os vestígios das liberdades, substituindo-a pela mobilização ideológica das massas, comandadas por um “Füher” absoluto.

Democracia e Revolução, como produtos do mundo moderno, são conceitos e valores contraditórios.

A Revolução de 1917 na Rússia foi a insurgência de um pequeno grupo de combativos revolucionários, resolutos e armados, que derrubaram um Governo fraco, envolvido  em uma guerra desastrosa, incapaz de resistir ao povo, desejoso de paz, pão e terra.

O exemplo chinês é contundente. O conceito de revolução proletária, concebido por Karl Marx, conhecido nas  sociedades industrializadas da época, sofre uma profunda mudança, na  qual o Partido Comunista, liderado por intelectuais,  recruta seus  soldados e revolucionários entre os camponeses. Para Mao Tse Tung “a revolução não é um banquete de gala”.

É profético o que Raymund Aron escreveu em 1959 sobre a revolução, que ameaçava eclodir: “A revolução do tipo marxista não se deu porque sua própria concepção era mítica: nem o desenvolvimento das forças produtivas, nem o amadurecimento da classe trabalhadora preparam a derrubada do capitalismo pelos trabalhadores conscientes  da sua missão. As revoluções que afirmam ser proletárias.... marcam a substituição violenta de uma  elite por outra.”

Não se pode negar ao marxismo, a definição do que é uma revolução, em suas diferentes modalidades. A visão “blanquista” considera a revolução obra de um pequeno grupo de homens armados, que assaltam as instituições do Estado e implantam um regime inspirado na nova classe dominante. Já os “mencheviques”  concebiam a revolução de uma perspectiva evolutiva, segundo a qual a sociedade  socialista futura evolui no seio da velha ordem social, a  qual seria coveiro dela própria. A mais corrente das concepções entende que o Partido revolucionário, composto de operários vai conquistando poder na sociedade e no Estado, a tal ponto que o golpe final, às vezes violento, é  dado quando todas as instituições foram minadas e são incapazes de resistir à instalação da ditadura do proletariado.

Vivemos a era das revoluções ou elas sucumbiram à vertigem democrática que assola o mundo? A essa pergunta não podemos escapar, mesmo quando parece evidente que a luta de classes foi varrida da História. Todavia, a ela sucedeu algo mais destrutivo, destinado a acentuar a trágica  convivência do  século XXI: a revolução dos mais ricos em  aliança com a  esquerda revolucionária de outrora, artífice da divisão e do conflito entre identidades.

Esta revolução pacífica em curso consiste na redução da população mundial, onde homens e mulheres se transformaram no mundo líquido de gêneros, os negros  e brancos  duelam no mundo  tóxico do racismo, cogita-se de um  governo mundial a fim de  sepultar para sempre a Democracia e assim, como na Divina Comédia, abre-se a porta do Inferno.

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