Há muito tempo atrás, o etnólogo Roger Bastide, em Mythes et Utopies, advertia “que a maioria dos etnólogos está atualmente de acordo em considerar os mitos como resposta a fenômenos de desequilíbrios sociais, a tensões no interior das estruturas sociais, como telas sobre as quais o grupo projeta suas angústias coletivas, seus desequilíbrios do ser”.
Esta verdade insofismável denuncia que não há razão para o desespero de Lula – o presidente “eleito” do Brasil – de carpir de dor o fato de Bolsonaro ser considerado um “mito”. Os dois são mitos, chifres da mesma cabra. Um, o primeiro, produziu a sua mitologia política prometendo a idade do ouro para todos, a revolução redentora, o mito democrático ou os tempos vindouros de uma era maléfica, o fundo obscuro do seu discurso mitológico. O segundo, enredado nas malhas da tentativa de assassinato, da orquestra desidiosa da velha imprensa, e na mortalha oficial da justiça viu escapar entre os dedos o mito que representava, o de eliminar as estruturas ultrapassadas do sistema político em voga.
O mito esquerdista, representado por Lula, desenvolveu seu impulso motriz na carcomida divisão da sociedade entre opressores e oprimidos. Sob o leito vazio do caudaloso rio em que, no passado, burgueses e proletários, travaram renhida porfia, retalharam a sociedade nacional em grupos minoritários, em harmonia, com os milionários da Terra, sepultaram a Nação.
Destroçada a Nação, mito fundacional com que o povo identificava suas crenças, valores e sonhos, instaura-se um período histórica de desagregação, dos valores essenciais e admitidos. O caminho está aberto para o recrudescimento da efervescência mítica, na medida que os valores nacionais são substituídos por valores exclusivos dos grupos identitários.
Como se pode erguer ou temperar uma Nação com retalhos que, uma vez costurados não formam um todo coerente, composto de uma identidade única e historicamente formada?
Acredito que a maioria do nosso povo não se dê conta da tragédia que se encontra em curso. Certamente, que a ninguém passa desapercebido o arrocho fiscal a que estamos submetidos, o crescente custo de vida, o desastre político e moral das relações externas do nosso País, a corrupção que escancara a cada grande negócio do Governo, os gigantescos déficit fiscais apurados a cada ano e outros tantos males que ameaçam a estabilidade econômica e social do país.
O Governo Lula divide o País social e politicamente. O “Nós e Eles” converte-se no modelo político vigente, cuja experiência em outras Democracia nascentes no mundo, foi o conflito armado, a guerra civil, sempre indesejável para aqueles que almejam uma Nação próspera e livre.
Uma vez consciente dos riscos letais que ameaçam a continuidade da Nação agonizante, a sociedade busca erguer-se por meio da comunicação entre seus membros, da crescente elaboração intelectual dos seus escritores, artistas e cientistas. Não obstante, o mito, uma vez no Poder, e apesar de sua fluidez e ambivalências, assume sua coerência, através de ações coercitivas e totalitárias.
Não é por outra razão que o mito apela para a censura e a regulamentação dos meios de comunicação de massa, hoje representados pelas diferentes redes socias, as quais já desempenharam papéis decisivos na derrubada de ditaduras em diversas partes do mundo, principalmente no mundo árabe, com a decantada “primavera “árabe”.