Amici, ad qui venista ¿

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Amici, ad qui venista ¿

Recentemente, o Presidente do Brasil, Lula da Silva, foi ao  Vaticano, acompanhado de  Janja, visitar o  Papa Francisco, fato amplamente destacado na imprensa brasileira, embora o noticiário não dizia  claramente qual missão de  Estado o Presidente brasileiro pretendia desempenhar em terras  italianas.

A boca pequena correu a informação de  que o polímaco estadista visitou o Sumo Pontífice - o qual  dias  antes  tinha recebido a  visita do Presidente  da  República  Argentina, completando  assim a  prosaica  romaria de  Ditadores latino-americanos que  compareciam à  Santa  Sé,  a fim de oscular as  sagradas  mãos de Francisco - com a  finalidade de intermediar a paz e a boa convivência da  Igreja  Católica com  o ditador da  Nicarágua, amigo  dileto de Lula da  Silva. 

Até hoje não se sabe se Lula obteve sucesso nessa difícil missão, na medida que ainda ontem mais um clériconicaraguense foi preso, em razias policiais tão frequentes naquela republica  sandinista.

Cercada de tantas  incertezas  sobre  o  real motivo da  visita, pretensamente diplomática do presidente brasileiro, cogitou-se que  Lula, tão  sábio em  matéria internacional, também a  boca  pequena e provavelmente numa  mesa  de bar com silentes  prelados brasileiros, tratou das  diferenças  gritantes  e distintivas de Francisco com o Papa renunciatário, recentemente falecido, Bento XVI.

É notório que Bento XVI era um cultor das tradições religiosas, dos chamados mistérios da fé e pretendia  revigorá-los, modernizá-los e  traze-los  á tona  sem que  perdessem seus fundamentos seculares, restaurando os  ensinamentos basilares e eternos de Jesus Cristo.

Francisco I, que substituiu a Bento XVI no comando da Igreja, não pensava assim. Enquanto seu predecessor buscava ser  melhor, restituir à Igreja as verdades  de  fé, restabelecer o  cristianismo primitivo tão ameaçado pelas ideologias pós-modernas, empenhadas  em desconstruir os  valores secularmente  erigidos no  mundo Ocidental, o  Papa argentinoconstruiu a  estratégia de  incorporar aos valores cristãos os  postulados tão em  voga e  difundidos pela famosa Escola de  Frankfurt.

O  repertório atualíssimo da Igreja passou a ser as  questões  de gênero, a liberdade sexual, as diferenças  de  cor propugnadas pelos defensores doidentitarismo, o feminismo em  suas  diversas ondas,  através  de uma leitura que  elimina a  luta  de  classes presente  nas  entranhas  das velhas  ideias revolucionárias  e, em  seu  lugar,  fomenta essas  novas oposições  e  conflitos  entre opressores  e  oprimidos.

Com isso, o que o ocupante do trono de Pedro busca é uma Igreja dominante, capaz de ser maior ao invés de melhordo  ponto de  vista de  seus fiéis, fiéis que  identificam na  própria  trajetória da  instituição o  corpo místico de  Cristo.

Tal  comportamento aproxima mais a Igreja a uma entidade da  arena  política e  faz  lembrar o  Tratado de Latrão, assinado entre  a Santa  Sé e o Governo da  Itália, em  1929, através do que  Pio XI e Benito Mussolini resolveram a  antiga  Questão  Romana, que  colocava a Igreja e o Estado italiano em permanente conflito desde 1866, quando foi celebrada  a  unificação  da  Itália. 

Se  vivesse em  nossos dias G.W.Chesterton, o  famoso filósofo católico, não hesitaria em adotar os  caminhos do Papa morto, quando  adverte: “se o  mundo  se  tornar  demasiado mundano, pode  ser  retificado  pela  Igreja, mas  caso  a  Igreja se  torne  demasiado  mundana,não há de poder  ser  retificada na  sua  mundanidade  pelo mundo”.

Se Lula fosse  tão  polímaco  quanto  pensa  que  é, saberia  responder  ao  Papa o  que  ele foi  fazer  lá.

 

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