A anistia – seguramente um ponto futuro de aglutinação de todos os brasileiros – tem força suficiente para desmascarar a farsa do golpe de Estado e conduzir a Nação ao caminho da restauração democrática. Tem, este instituto, um potencial de crescimento semelhante ao que levou à adoção da Lei 6683, de 28 de agosto de 1979, através da qual os brasileiros escolheram, definitivamente, a Democracia.
A quem interessa a desintegração desse poderoso movimento, num contexto em que se deram os primeiros passos na reconquista do estado de direito? Que forças aspiram a implosão desse edifício que estamos construindo, a despeito de tantas dificuldades, se a vida nacional ainda patina nas areias movediças de uma “democracia relativa”, interessada em conservar os aspectos mais nocivos do autoritarismo?
Muitas gerações viveram, entre nós, as experiências apreendidas em regimes truculentos e vivenciaram as promessas vãs do populismo, cujas ilusões ainda não desvaneceram. Para superar esses malditos tempos, são necessários empreendimentos históricos de larga duração, a fim de internalizarem as lições das liberdades e das práticas liberais no âmbito da sociedade.
Cui Prodest? Interessa aos que vivem das rendas públicas, pendurados nas tetas do erário público, da burocracia que se reveste da forma ideológica dos poderosos do dia, do crime organizado, beneficiários da proteção do poder público, dos agentes da corrupção, sócios dos negócios públicos, enfim, da desagregação continuada da sociedade.
Em troca desse paraíso terrestre onde se estabelece um valhacouto de marginais, o Estado do medo e do terror se ombreia com as mais truculentas das ditaduras, com o narcotráfico, o terrorismo internacional e tem, como esconderijo de suas tropelias pelo mundo, a agenda 2030 das Nações Unidas, cartilha que pretende levar as nações à sua completa descaraterização, ao governo mundial supressor da Democracia e da soberania nacional, ao controle populacional, enfim, a uma geleia geral do ponto de vista cultural.
Este cenário sombrio, desesperador, faz-nos imaginar a inutilidade da vida e quanto nossos esforços podem ser inúteis, face a indiferença da própria vida. É o que informa o mito de Sísifo. Afinal, lutar continuamente para levar até o topo da montanha uma pedra enorme, a qual teima em escorregar de nossas mãos e retornar à base da montanha, nos forçando a esforços repetitivos e inúteis, expressa simbolicamente o absurdo da vida! O mito de Sísifo, contudo mereceu uma interpretação mais otimista e desafiadora, concebida por Albert Camus.
Para Camus, ainda que a vida seja absurda, marcada pela inutilidade de certos esforços, é preciso perseverar, não esmorecer e continuar, como Sísifo, a carregar a pedra montanha acima. A felicidade do famoso Rei do Mito de Sísifo consiste a nossa própria felicidade. Quem sabe, chegaremos ao topo da montanha? Tudo indica que não estamos longe desta proeza…
Não importa o gigantismo dos fatos, por mais facínoras que possam parecer, por mais misérias morais que contenham e por mais que sejam embalados em uma cama de horrores legais, elas personificam os coveiros de sua própria sepultura, pois a cada mais uma de suas arbitrariedades é mais uma pá de terra, que inapelavelmente cavam.
Refletindo bem, o mito de Sísifo nos remete à alegoria cotidiana da luta de cada um de nós para a consecução dos nossos objetivos humanos e nos adverte que outros farão por nós e que é preciso assumir a tarefa, antes que outros o façam! A mais urgente de todas essas tarefas é da anistia, a que reconcilia a nação com o exercício dos seus direitos democráticos!