As águas de um mesmo rio

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As águas de um mesmo rio

Erasmo de Éfeso, filósofo da Grécia pré-socrática, criador do pensamento dialético, lembrou que nunca nos banhamos nas águas de um mesmo rio, na medida que estas correm inexoravelmente para o mar.  Seu objetivo era demonstrar a constância das mudanças, a que tudo estava sujeito no mundo.

As grandes transformações históricas e tecnológicas experimentadas no mundo pós-moderno atestam o enunciado de Heráclito e chama a atenção para a complexidade do mundo que ruiu, ao impacto dos acontecimentos de 1991.

Essas novas contingências do mundo que veio à tona, todavia iria esculpir uma nova realidade na alma humana, na medida que esta reflete as novas circunstâncias históricas da humanidade, profundamente transformada.

É de tal monta e significado as transformações operadas, que  vemos  cair por terra o longevo  experimento socialista na URSS e nos países do leste europeu, a derrubada de icônico Muro de Berlim, o avanço vertiginoso da globalização econômica e cultural, o crescente desempenho da economia chinesa, a  violência terrorista como método de guerra, o nacionalismo de países emergentes e as  ameaças à paz mundial.

Era compreensível e necessário que emergissem novos arranjos políticos e novas visões de mundo, suficientes para oferecer alternativas ao novo mundo, cuja História não havia se concluído, como previu Francis Fukuyama, porém abriu uma nova temporada de formulação de ideias e saídas condizentes com os desafios do novo mundo que se desenhava.

Vendo o seu mundo desmoronar, os  corifeus da  velha esquerda, cuidaram de substituir a “luta de classes”, sustentáculo teórico do comunismo fracassado, por uma divisão ainda mais conflituosa da  sociedade, confrontando raças, sexo, gêneros, introduzindo políticas através  das  quais rompeu os princípios  constitucionais de igualdade dos cidadãos e abandonaram os  verdadeiros problemas que  alimentavam sociedades profundamente desiguais e injustas. 

A ameaça evidente aos fundamentos morais do estado de  direito e da Democracia, ensejaram, contudo, o  fortalecimento dos valores que  forjaram a  cultura ocidental, a conservação das tradições e  costumes nacionais e a busca incessante por  caminhos conducentes à prosperidade econômica e ao bem estar social.

Norberto Bobbio, ao festejar seus oitenta anos de vida, dizia  que “uma pessoa na minha  idade, por mais que procure com todas as forças ficar na ponta dos pés, consegue ver apenas as primeiras sombras desses novos tempos”. Nas sombras de nossos desafios futuros, é possível vislumbrar duas escolhas para as quais temos o dever de fazer. A primeira é que é chegada hora de jogar a velha carga ao mar, livrar-se das ideias mortas, das soluções ilusórias e ser corajoso o suficiente para adotar novas trajetórias. A segunda, após se ver livre de compromissos moribundos e decadentes, percorrer novas aventuras, calcadas na liberdade, na preservação dos valores morais, das tradições de sua  cultura nacional  e na intransigente defesa do Ocidente, que nos  criou e nos  aperfeiçoa. 

À pergunta “para onde vai o mundo?”. A esta pergunta é possível não encontrar uma resposta definitiva. É preciso, porém, dizer em alto e bom som, que não será conduzido ao suicídio dos regimes totalitários sepultados pela História, tão pouco à ideologia “woke” que submeterá o homem à troca de Deus pelo mundanismo vulgar e irracional.

Prefiro, por fim recordar o que nos disse um filosofo pessimista, ainda que vidente, Arthur Schopenhauer: “o importante não é ver o que ninguém nunca viu, mas sim, pensar o que ninguém nunca pensou sobre algo que todo mundo vê”.

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