A minha reflexão neste artigo é sobre o conhecimento. O conhecimento tem valor? As pesquisas mostram que sim, que ele é um dos maiores fatores determinantes do desempenho organizacional, de acordo com a knowledge-based view, e também do desempenho do indivíduo, enquanto profissional. Já está provado que quanto mais se avança nos degraus acadêmicos do conhecimento, maiores passam a ser as diferenças em termos de remuneração. Uma boa parte do valor do seu talento tem a ver com o quanto de conhecimento possui, mas como o conhecimento pode se tornar obsoleto, é necessário ter a capacidade de estar sempre adquirindo novos conhecimentos. Mas o conhecimento sem aplicação, sem uso, sem disseminação, sem compartilhamento, pode frustrar, por isso é importante colocar os conhecimentos existentes em prática, com o propósito de transformar a realidade e o contexto em que vive. Isso é o que o torna um profissional valioso.
Passo agora a refletir sobre as diferentes formas de adquirir novos conhecimentos.
Se despertar para adquirir novos conhecimentos
Considerando que nem todo mundo é curioso o suficiente para ir buscar novos conhecimentos, uma das formas de despertar a pessoa é por meio da comparação com um colega ou amigo, e para isso há que se ter humildade para reconhecer as suas deficiências. Experimente assistir a um programa de perguntas e respostas com alguém que sabe mais que você. Experimente participar de algum curso e sentir que está destoando da turma em termos de conhecimento, ficando atrás dos seus colegas, ou ainda quando em grupo você perceber que sabe muito pouco dos temas em discussão. Essa pode ser uma boa forma de você despertar para a necessidade de adquirir novos conhecimentos, e isso não é ruim, mas você precisará lidar com a questão de qual gap de conhecimento que deve preencher e elencar prioridades. Não dá para saber de tudo mesmo, e nem adquirir todos os conhecimentos ao mesmo tempo, mas saber escolher quais gaps precisam ser trabalhados faz a diferença nessa hora. O lado bom é que ao saber que não sabe, você tem a oportunidade de aprender e evoluir, mesmo sentindo um pouco de desconforto, que nesse caso é salutar.
Uma vez eu conversei com um profissional experiente em marketing que estava fazendo MBA em Finanças. Perguntei para ele por que estava naquele curso se nitidamente a carreira dele era em outra área. A resposta foi que, além do fato de Finanças ser um tema relevante no estágio atual da carreira dele, a própria empresa tinha ofertado para custear um curso a ele, e então ele escolheu o tema que mais tinha dificuldade, se desafiando.
Adquirir novos conhecimentos por meio da interação com os pares
A interação com os pares, gerada por meio de um diálogo, uma escuta cuidadosa e discussões abertas e educadas, geralmente é uma importante fonte de novos conhecimentos. Eu costumo falar que de cada dez coisas que sei, quatro eu aprendi com os alunos, pares e em conversas com empresários e executivos, três eu estudei ou li por minha conta, e três aprendi pela interação na prática. Esse é o que eu chamo de esquema 4-3-3, que pode mudar para 3-3-4 ou 3-4-3.
Sou privilegiado por ensinar em cursos em que existem alunos que me instigam a pensar além do que sei e também a buscar novos conhecimentos para tentar responder a esses questionamentos. Também tenho alunos que são experts nos temas de atuação por conta de suas experiências profissionais e acadêmicas, e para aprender com eles basta interagir de forma a promover essa troca de conhecimento entre todos que estão presentes na sala de aula. Também aprendo muito quando estou interagindo com colegas, empresários e executivos, pois cada um deles tem muito conteúdo que posso absorver e refletir. Nas minhas orientações de mestrado e doutorado, adquiro mais conhecimento do que compartilho. Na realidade aprendo sempre com interações cotidianas, em vários aspectos e com diferentes perfis de profissionais.
Conhecimento Formal
Embora existam algumas pessoas que dizem que o conhecimento formal não é relevante, eu defendo que o conhecimento adquirido pelos meios formais nos bancos escolares ainda é bastante importante, eficaz e eficiente, principalmente no ambiente de uma escola formal comprometida com a produção e disseminação desse aprendizado. Nesse caso, a pessoa tem que escolher o melhor formato de curso que atenda ao seu objetivo: longa ou curta duração, especialização ou mestrado/doutorado, on-line ou presencial. Estar consciente que para adquirir conhecimento é necessário dedicação, como leitura prévia e extraclasse também. Mas talvez o mais importante seja realmente reconhecer-se como uma pessoa que quer aprender.
Comunidade de práticas
Participar de uma comunidade de práticas, que são aquelas que são constituídas por indivíduos que estão no campo da prática e que criam grupos e espaços para discussão de temas e compartilhamento de conhecimento, também é uma boa forma de aprendizagem. Felizmente, estamos vendo isso acontecer com maior frequência no campo de contabilidade e finanças, algo que já é muito comum no campo dos profissionais de psicologia, que criam pequenos grupos informais de estudos. No campo de negócios, juntar oportunidades que gerem conhecimento e relacionamento é a tendência atual.
Disseminar o conhecimento também é uma boa forma de adquirir conhecimento
Por fim, eu acredito que participar de momentos em que você seja requisitado para compartilhar esse conhecimento é a melhor forma de adquirir novos aprendizados. Primeiro, porque você terá que se aprofundar no tema, se preparar ainda mais; segundo, porque ao disseminar de uma forma que seja interativa, você absorverá novos ou revisitará os conhecimentos existentes.
Minha recomendação final é que você continue investindo em um dos seus melhores capitais em termos profissionais, que é o capital de conhecimento.
José Carlos Oyadomari é doutor em controladoria e professor pelo Insper e Mackenzie. Membro do Comitê Consultivo da HVAR Consulting. Diretor de Parcerias da TRAAD Wealth Management. https://www.linkedin.com/in/jcoyadomari/