EBITDA: 5 modos de usar

Ás

EBITDA: 5 modos de usar

As críticas ao tão famoso EBITDA se tornaram meio que um consenso, tanto na literatura acadêmica quanto pelos profissionais de mercado. Eu concordo principalmente quando se dá uma ênfase excessiva ao uso do EBITDA como um único indicador base para bônus ou covenant. (Veja meus artigos sobre a imperfeição dos indicadores de desempenho neste link.

Mas se existem tantas críticas, por que então esse indicador é ainda tão discutido e ensinado e também utilizado na prática? A seguir, apresento 5 usos do EBITDA, começando com o próprio.

EBITDA à Earnings Before Interest, Taxes and Depreciation

É o lucro operacional sem considerar os efeitos do resultado financeiro (receitas financeiras menos despesas financeiras), os efeitos da tributação sobre o lucro, e também a depreciação e amortização dos ativos. Podemos definir como uma geração potencial de caixa oriunda da operação. Potencial, porque é apurada pelo regime de competência. Operacional, pois adota o conceito que os demais itens não considerados, como resultado financeiro e impostos, podem ser atribuídos junto à situação financeira da empresa, e também com a questão de incentivos fiscais e planejamento tributário. Ou seja, é um bom indicador que reflete a gestão operacional de curto prazo, pois não considera a depreciação e amortização que normalmente são reflexos de investimentos feitos em períodos anteriores. Portanto, é o resultado da gestão principalmente operacional de um período, que vai passar no caixa de acordo com o ciclo de caixa da empresa.

  1. Margem EBITDA à EBITDA / Receitas Líquidas  à Eficiência de geração potencial de caixa

Já o indicador Margem EBITDA nada mais é que um indicador de eficiência, pois calcula o EBITDA como porcentagem das Receitas Líquidas. Ou seja, é a eficiência ou a capacidade de transformar receitas em geração potencial de caixa. Você pode usá-lo para comparar empresas do mesmo setor que tenham estratégias parecidas em termos de verticalização das atividades.

  1. Dívida Líquida / EBITDA à Empréstimos Totais menos Caixa e Aplicações Financeiras / EBITDA  *EBITDA tem que ser positivo

A dívida líquida/EBITDA considera todos os passivos com o mercado financeiro (empréstimos, financiamentos, debêntures), de curto e longo prazo, e desconta o caixa e aplicações financeiras (de curto e longo prazo).  Podemos dizer que ele mostra quantas gerações potenciais de caixa estão comprometidas com os bancos. É utilizado como covenant (cláusula restritiva) em contratos entre credores e devedores. Nesse caso, é estabelecido um limite máximo que, se superado, o credor pode executar a dívida de imediato, ou ainda aumentar os juros do contrato. Uma das vantagens é que ele pode ser utilizado como indicador de risco, ou seja, o conselho ou os acionistas podem determinar um número máximo que os executivos não podem ultrapassar, sob pena de perda de bônus ou demissão (veja o artigo anterior em que mostrei os problemas desse indicador). No nosso livro referenciado, indicamos como combinar o indicador 1 e o indicador 2 para fazer diagnósticos das operações e da situação financeira de uma empresa e traçar estratégias.

  1. Cobertura de Juros à EBITDA /Despesas Financeiras  * EBITDA tem que ser positivo

Esse é um indicador que mede a capacidade da operação fazer frente às despesas financeiras. Numa visão menos conservadora, pode-se usar o resultado financeiro negativo, assumindo que a empresa tenha caixa e aplicações em volume considerável proporcionalmente à dívida bruta. Evidentemente, o número tem que ser maior que 1, e em geral se trabalha com maior que 3 vezes, o que significaria dizer que cerca de 1/3 do EBITDA já estaria comprometido com as despesas financeiras. Pode ser utilizado como covenants também para limitar o risco.

  1. Cash Conversion à Fluxo de Caixa das Operações / EBITDA  à Competência em transformar potencial de caixa em Caixa  * EBITDA tem que ser positivo

O indicador cash conversion, que é obtido pela divisão do Fluxo de Caixa Operacional em relação ao EBITDA, na realidade mostra a capacidade de transformar uma promessa (que é o EBITDA) em entrega efetiva (que é fluxo de caixa das operações). Ele reflete a gestão do working capital, que impacta o fluxo de caixa das operações. Quanto maior o percentual, quer dizer que melhor foi a gestão do working capital, sem considerar os efeitos do pagamento de imposto de renda e contribuição social que afetam negativamente o fluxo de caixa das operações.

  1. Enterprise Value / EBITDA  à (Dívida Líquida mais o Valor de Mercado) / EBITDA   *EBITDA tem que ser positivo

Enterprise Value é o valor da empresa e geralmente se obtém pela soma da dívida líquida mais o valor de mercado do patrimônio líquido (quantidade de ações multiplicado pelo preço da ação). Dividindo esse valor pelo EBITDA, o indicador mostra como se fosse um múltiplo EBITDA, ou seja, quantos EBITDAs a empresa está sendo precificada, de uma forma simplificada.  Quanto maior o múltiplo, mais cara e/ou maior é o valuation da sua empresa no longo prazo.

Finalizando, por mais que existam críticas, eu entendo que utilizar esses indicadores associados ao EBITDA elencados pode ajudar a monitorar algumas dimensões do desempenho da sua empresa.

Referências: Oyadomari et al (2023) Contabilidade Gerencial Ferramentas para melhoria de desempenho empresarial. GEN Atlas. https://www.grupogen.com.br/livro-contabilidade-gerencial-ferramentas-para-melhoria-de-desempenho-empresarial-oyadomari-neto-dultra-de-lima-nisiyama-aguiar-e-santos-pereira-editora-atlas-9786559774449

José Carlos Oyadomari é Professor Doutor em Controladoria, atua pelo Insper e Mackenzie. Consultor Sênior Associado da Consulcamp Auditoria e Assessoria. Conselheiro da HVAR Consulting. https://www.linkedin.com/in/jcoyadomari/ e-mail [email protected]

Comentários

Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site. Se achar algo que viole os termos de uso, denuncie:[email protected]

Faça seu comentário