No último mês, fiquei alguns dias no hospital. Embora minha situação não tenha sido grave, esse período me proporcionou algumas reflexões a respeito da vida e do trabalho. Eu tinha alguns cursos programados, dos quais não pude participar. Felizmente, meus colegas me substituíram de forma brilhante. Ali eu aprendi que não somos insubstituíveis, mas também fiquei com algumas reflexões: “e se eu desaparecesse amanhã, ainda teria alguma coisa para passar para alguém?” “O que eu deveria ter feito para que algum conhecimento que eu ainda não havia passado aos meus alunos ainda pudesse ser compartilhado?” “E as minhas ideias de projetos corporativos que ainda não foram colocadas no papel?” “O que eu deveria ter feito?” “E as conversas familiares, o que teria ficado pendente de ser falado e de ser resolvido?”
Coincidentemente, gravei um episódio do meu podcast “Gestão por quem faz” com empresários cujos dois dos seus sócios faleceram em menos de um ano por causas naturais e totalmente imprevistas. Coincidentemente ou não, esses dois empresários, tio e sobrinho, conduziram um processo de sucessão no qual o sobrinho assumiu a posição anteriormente ocupada pelo tio. Embora eles tivessem passado por esse evento inesperado, a sucessão foi facilitada pela implementação de mecanismos de governança, mas não se pode negar que muito provavelmente ela foi acelerada pelos eventos de falecimentos.
Nesse mesmo mês, conheci uma pessoa cujo familiar, um empresário, faleceu e deixou a ela a incumbência de vender ou liquidar a empresa e fazer a distribuição entre algumas pessoas que ela listou antes de falecer.
Todas essas situações me levaram a escrever esse artigo. Por isso, convido você, que é um empresário, executivo ou um especialista, a refletir sobre as seguintes questões:
• O que você está fazendo para conduzir a sucessão da sua empresa?
• Tem como hábito compartilhar os projetos que vem conduzido com algum diretor ou gerente da sua organização?
• Tem como hábito registrar ou compartilhar os insights que teve ao longo do seu trabalho?
• Tem como hábito fazer reuniões com clientes, fornecedores e funcionários com a participação de outras pessoas da sua organização?
• Já pensou em um plano B para caso você fique impossibilitado de atuar por algum período que seja crítico para sua empresa?
• Caso tenha uma empresa familiar, você já tem uma holding que tenha acomodado os familiares para que esse processo de sucessão seja assertivo e rápido?
• Tem conversado com seus familiares para procurar alguém que se interesse pelo negócio e possa ser eventualmente desenvolvido para a sucessão? E em caso negativo, quais encaminhamentos estariam sendo contemplados? Encerramento ou venda da empresa?
Arrisco a dizer que, provavelmente, de dez empresários que lerem esse artigo e que precisam de sucessão, apenas dois estejam fazendo alguns desses itens listados. Entendo também que é natural do ser humano não pensar na finitude, mas que devemos refletir que ela é uma das únicas certezas da vida. Por isso, pensando na continuidade do seu legado e na sustentabilidade da sua empresa, faz muito sentido e é importante você pensar e agir visando o futuro.
José Carlos Oyadomari é Doutor em Controladoria e Professor do Insper e Mackenzie. Membro dos Conselhos Consultivos da HVAR e Consulcamp. Sócio da True Port Advisors. Apresentador do Programa Gestão Por Quem Faz. https://www.youtube.com/@GestaoPorQuemFaz @prof.oyadomari - https://www.linkedin.com/in/jcoyadomari/