O anjo exterminador

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O anjo exterminador

Luis Buñuel, diretor cinematográfico consagrado, autor de mais de uma dezena de películas, admiradas em todo o mundo, imaginou uma festa interminável, na qual dramatizou o enigma da sociedade burguesa. Nela, nenhum dos convidados encontrava a saída que os conduziriam à vida, que se desenrolava no exterior, presos às suas misérias existenciais, como na célebre caverna de Platão.

É o que estamos vivendo na dolorosa realidade brasileira, na qual um fantasmagórico tribunal supremo encena um teatro de ilusões e mantém prisioneiros num salão líderes políticos, advogados, promotor, juízes e funcionários analisando crimes inexistentes, enredos dignos de uma comédia bufa.

Lá fora crepitam as chamas da verdadeira destruição do estado democrático de direito e da inominável violência contra a democracia, esta sacrificada no altar dos sacerdotes togados, em solene violação das leis e da Constituição. Nestas condições, as preferências políticas e ideológicas se calam, “que uma voz mais alta se alevanta”, para dar lugar à soberana verdade republicana, a de que todos têm os mesmos direitos de se expressarem, sejam de direita ou de esquerda. 

Indefesa, a Nação se vê assaltada pela horda dos bandidos e dos foras da lei. Vemos, tão claro como a luz do sol, que já não somos, há muito tempo, uma Nação que vive no império da lei, mas submetida ao império de homens, que fazem do crime seu modo de ser.

Atuam no país mais de 80 organizações criminosas, amparadas por uma legislação esquerdista que os privilegia com suas concepções ideológicas, convertidas em legislações e inseridas no ordenamento jurídico do país, desde que governos petistas tomaram o poder federal.

As facções criminosas e as milícias estão integradas ao  sistema econômico e  financeiro do país em todos os Estados brasileiros. Controlam territórios e neles serviços públicos, como fornecimento de água e luz, transporte e combustível, assumindo um poderio que rivaliza com o setor privado tradicional e o próprio Estado.

O crime alcançou níveis inusitados. Estruturou seu próprio sistema de Justiça, criou suas regras intocáveis e exerce o poder judiciário com eficácia, condenando, não raro, à morte aqueles que ousam desafiar suas regras.

O arsenal do crime organizado envolve uma rede muito ampla e o abastece, em todo o país, dos mais modernos armamentos. O monopólio do poder de usar armas, cobrar tributos e fazer as leis não pertence mais ao Estado, mas está em mãos do crime organizado, que estende seu poder a territórios cada vez mais amplos. Submete as populações nos ambientes subnormais, porém se irradiam num vasto sistema comercial, agindo em qualquer espaço social.  

O “negócio” do narcotráfico atinge cifras elevadas e difíceis de ser estimadas. Irriga, com facilidade evidente, todo o sistema político e judicial do país, constituindo-se numa  força política considerável, financiando largamente agentes públicos, em todas  as órbitas do poder político e administrativo.

Como se vê, no lá fora o país fervilha no desastre absoluto. O desmantelamento da ordem democrática, a supremacia do crime sobre o Estado é o sintoma de uma sociedade sem ordem e sem lei. Urge recuperar o predomínio da sociedade civil sobre o crime dominante, depois de tantos anos de permissividade. Essa é a exigência inadiável, sob pena de  sucumbir a História neste incêndio, que nos acomete.

Somos um Estado dominado pelo narcotráfico.  Só uma  verdadeira revolução nos libertará desta destruição derradeira, não esta  sórdida pantomina, que deforma a vida politica, e que que estamos severamente ameaçados. Uma revolução, nada menos do que isso, tal como nos aconselha George Orwell: “em tempos de engano universal, dizer a verdade se converte em um ato revolucionário.”

Comentários

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lidia Santana
Parabéns pelo ensaio, como é bom saber que ainda existem vozes lúcidas e corajosas em meio a esse infernal pesadelo.

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