O filme Oppenheimer, em cartaz atualmente nas salas de cinema, suscita o maior dilema vivido pelo ser humano na face do planeta Terra.
Em 1966, a Editora Civilização Brasileira editou o livro Perspectivas do Homem, no qual o filósofo marxista francês Roger Garaudy nos adverte que “a humanidade inteira, se continuar a viver, não será simplesmente porque nasceu, mas porque terá decidido prolongar sua vida... a comunidade que se fez guardiã da bomba atômica está acima do reino animal, porque é responsável por sua vida e por sua morte; a cada dia, a cada minuto será preciso que consinta em viver.”
Esse é o dilema que desafiou o homem ao longo de sua existência, proeza que ele jamais alcançara, apesar de toda a violência das guerras registradas pela História. A fissão do átomo com a consequente difusão em cadeia tem o poder de arrasar com o planeta e extinguir a vida que nele floresça. Estima-se que existam espalhadas em nove países 14.945 ogivas nucleares, 92% delas entre os Estados Unidos e a Rússia.
Foi preciso que a maior Democracia do mundo, os Estados Unidos da América, criasse uma cidade no deserto, investisse alguns bilhões de dólares, reunisse seus mais renomados cientistas entre mais de 120 mil colaboradores, para que o projeto Manhattan saísse do papel e produzisse o evento militar mais destrutivo da Segunda Guerra Mundial, responsável pela morte de mais de 200 mil japoneses, consumidos pelo calor insuportável e pela radioatividadedilacerante.
O Homem tornou-se senhor de todo poder sobre a face da Terra, mas não alcançou tal dimensão não fosse o acúmulo de conhecimentos de cientista extraordinários, como o americano, Oppenheimer, o alemão Einstein e tantos outros na Alemanha, União Soviética e outros países do mundo.
A consciência científica revelou-se, todavia, muitas vezes superior à consciência política. O que esta primeira era capaz de engendrar em diferentes campos da ciência, a política estava sujeita às intrigas, ao ódio e a conquista da supremacia econômica, quando não também à supremacia racial. É sob o comando e a escassa sabedoria do estamento político que repousa a decisão de usar o armamento nuclear!
Ainda agora, nos tempos globais em que vivemos, graças à coextensividade entre as nações, provocada pelas barreiras rompidas pela tecnologia da comunicação, os avanços imensuráveis da informática, capazes de globalizar empresas, produtos e até mesmo culturas o mundo corre o risco de ser submetido ao extermínio das nações.
O fracasso do comunismo soviético na Rússia e na Europa trocou o paradigma revolucionário, representado pela luta de classes pelo multicultural identitarismo, partindo e repartindo as nações em pedaços odiosos, permanentemente em guerra, em busca não mais de direitos, mas da supremacia das mulheres em relação aos homens, dos negros em relação aos brancos, dos transexuais em relação aos heterossexuais.
Mais grave ainda, é que este panorama de conflitos é o projeto de grupos de bilionários do mundo rico em aliança com uma esquerda (new left) fracassada, que conduz grandes nações através de suas quimeras ideológicas. Os primeiros, perceberam que esta estratégia permitirá estabelecer a governança mundial e garantir a sobrevivência do próprio capitalismo, seja pela diminuição da população mundial, seja através a criação e fortalecimento das elites supremacistas. A velha e carcomida esquerda sonha com o restabelecimento de governos igualitaristas e totalitários.
Não é à toa que as grandes corporações e fundações estrangeiras empregam seus recursos em OGNs e outras organizações, em geral de esquerda, a fim de triunfarem no embate com os partidos , organizações da sociedade e sobretudo uma jovem intelectualidade não acadêmica que se lançam no debate público no afã de recuperar os ensinamentos da História e das ciências sociais, com a finalidade de socorrer as nações em perigo de vida.
Ao cabo de todas as ameaças que pairam, vale lembrar o magnífico verso do nosso poeta Drummond de Andrade, em face do medo suscitado pela hegemonia identitária: “morremos de medo, e sobre nosso medo nascerão rosas amarelas e medrosa”.