A Democracia relativa, ao gosto presidencial vigente, tem a exata medida de ferro, para cada brasileiro com o qual o ministro mor do judiciário “cisma” que praticou algum crime contra a estabilidade democrática do país.
A medida da pena é estabelecida conforme o crime inventado, produto da criatividade dos algozes. É assim na relatividade democrática, numa nação cujo Direito deriva da criatividade singular dos auxiliares de Procusto.
Procusto era um semideus, um ferreiro trapaçeiro, filho de um deus e uma mulher. Vivia em meio a uma densa floresta nas montanhas da Ática, na Grécia clássica. A diversão favorita desse semideus bandoleiro era atrair os viajantes para dormir em sua cama de ferro, no desfiladeiro onde morava.
O incauto viajante sequer desconfiava da relatividade do seu leito. Se o mesmo fosse comprido, o desprevenido viajante tinha decepadas a perna e a cabeça, a fim de que se ajustasse ao tamanho da cama, ou se fosse menor que as dimensões do leito era espichado, até alcançar a medida exata. Do mito de Procusto, ninguém sobrevivia!
Um semideus povoa o nosso lastimável sub mundo judiciário. Lá, o Procusto da mitologia judiciária, identifica primeiro o criminoso e depois o crime, ajustando um ao outro, num exercício de extrema criatividade e paixão pela democracia relativa.
Aqui também os cidadãos não sobrevivem à amputação de suas pernas e cabeça ou ao espichamento do seu corpo. A nação mutilada anda atrás desse devorador de cidadanias, que atende pelo esdrúxulo nome de Procusto, e despertou a ira dos homens e mulheres, que ainda não passaram pelas loucuras do amaldiçoado leito.
A lição inequívoca do mito de Procusto é que os homens não podem sucumbir à maldade de um farsante e ser seduzido pelo sono da morte. A síndrome de ressentimento e dor, presente nos amantes dessa padronização e ajustamento imoral da justiça, ruirá perante o tribunal das ruas, para florescer a verdadeira democracia, plural e livre, onde todas as ideias, de todos os tamanhos possam se expressar.
Os gregos antigos legaram aos pósteros uma sabedoria tal que não podemos ignorar. A padronização criminosa sugerida pelo bandido das florestas é um claro enigma: quer dizer que não há padronização alguma, a não ser que subtraia do homem a sua vida e sua dignidade, a fim de reduzi-los a um tamanho único!
Sem o relativismo da esquerda coletivista e identitária, a Democracia prefigura o que disse Protágoras de Abdera, um sofista iluminado: “o homem é a medida de todas as coisas” e não de um leito de ferro, majestoso e único.
Não fosse assim, a vida não tinha sentido e não adianta procurar por um, que não vai acha-lo, senão apatia, como se a vida não passasse de uma “coisa”, inerte e indiferente. Desse modo, não se ergue uma Nação de homens livres, pensantes e desalienados.
Estamos em desabalada carreira em direção a uma sociedade sem leis e sem princípios. Um governo de homens e vontades pessoais, sujeito ao arbítrio de pessoas, e não a impessoalidade das leis, a serem aplicadas todas as vezes que ocorra a transgressão dos códigos legais.
Até quando prevalecerão os suplícios do leito de Procusto?