Alguma coisa se movimenta nos céus da política brasileira, e não são os aviões da Panair. Estes não existem mais. Mas, as piruetas descrevem inusitados sinais de mudança, que permitem antever as tão cobiçadas transformações em direção à Democracia plena, ainda que tardia e sem data prevista.
Neste cenário, destaca-se a ponderação de Guimarães Rosa, na sua forma sutil de prevê tempestades: “tudo, aliás, é a ponta de um mistério. Inclusive, os fatos. Ou a ausência deles. Dúvida? Quando nada acontece, há um milagre que não estamos vendo”.
O mistério, todavia, persiste nas palavras dos dois mais proeminentes líderes do “Centrão”, o ex-presidente da Câmara, Artur Lira, que previu que ninguém quer naufragar junto com o atual Governo e o principal e sempre silente líder do PSD, Gilberto Kassab, que soltou o verbo para proclamar que o Governo está sem rumo e o seu Ministro da Fazenda, como todos sabem, é de uma incompetência lastimável.
Ou seja, trinca a principal força politica de sustentação do Governo Lula no Congresso Nacional, o que costuma acontecer nos arranjos políticos frágeis e corrompidos, véspera da demolição total, quando os ratos abandonam o navio prestes a ser tragado pelas ondas do mar.
A Oposição liberal e conservadora ganha força com os acordos costurados para eleger os presidentes das duas casas do Congresso Nacional, não só na representatividade adquirida nos organismos congressuais, como na agenda política que expressará o debate público na atual Legislatura, a exemplo da anistia e do retorno ao estado democrático de direito.
Não é possível deixar de considerar o confronto evidente entre a política externa do Presidente Lula da Silva e os novos rumos anunciados pelo novo presidente dos Estados Unidos da América, Donald Trump. Enquanto o presidente brasileiro percorreu um caminho sem volta, celebrando alianças com o eixo das Ditaduras, representado pela China, Rússia e Irã e aprofundando laços com grupos e países terroristas do Oriente Médio e América Latina, configurando, dessa forma e das mais variadas maneiras, seus pérfidos compromissos na destruição do Ocidente democrático, seus valores e tradições.
Num horizonte muito mais próximo do que podemos supor, nosso país defrontar-se-á com esses valores, todos defluentes de nossa histórica adesão ao Cristianismo e à Democracia liberal, onde vicejam as formas constitucionais de governo, a liberdade de expressão, o Estado nacional e os direitos humanos, os quais estão sendo dilacerados pela ditadura judiciária a que estamos submetidos. A reação ocidental e a reconquistada dos valores soterrados exprimem-se pela crescente onda, que se avoluma, para libertar as sociedades humanas das tribos identitárias e restabelecer a cultura própria das nações.
Mais cedo ou mais tarde seremos chamados a nos posicionar. Sem dúvida, com ou sem pressão política no âmbito externo, seremos uma nação comprometida com a Constituição e as leis ou debandaremos para o lado dos malfeitores do passado recente, incorporamos a plena liberdade de expressão como valor universal ou insistiremos na censura disseminada nas redes sociais, eliminaremos as arbitrariedades cometidas em nome da Democracia ou restituiremos os princípios elementares do Direito -como o juízo natural, o devido processo legal, o pleno direito de defesa, etc - .
Do panorama político brasileiro a conclusão é inevitável: chegamos ao fundo do povo. O Governo chegou fim. Prefiro, no final, a clareza de Graciliano Ramos: “extraio dos acontecimentos algumas parcelas. O resto é bagaço”, inclusive a entrevista de Lula para a amorfa plateia de jornalistas!