Nascida no ano de 1915, a minha Inesquecível de hoje era uma dileta filha de Oxun. Georgete Helena dos Santos, carinhosamente chamada de Mãe Joca. Residia no tradicional bairro do Tororó, e, ganhava a vida como lavadeira e secretária do lar. Em 1946, iniciou a vida religiosa pelas mãos de Maria Bibiana do Espírito Santo – Mãe Senhora, passando a ser chamada pelos Orixás de Eyin Oxun – A Fertilidade. Por motivos pessoais veio morar no Opô Afonjá, que, em um quartinho da casa de Oxalá passava a maior parte do tempo, e, aonde, quem caminhava pela roça via sua cabecinha branca pela janela. Após o falecimento da Iyákekerê – a Mãe Pequena da casa, Eutrópia Castro, a afamada tia Pinguinho, que desde a gestão de Mãe Senhora seguia no cargo, tia Georgete assume o cargo de Iyákekerê, passando ser a mais nova porta-voz da Iyálorixá – Mãe de Santo.
No ano de 1991 quando me iniciei tia Georgete já era a Iyákekerê. Ela também ocupava o cargo de Iyá Labaké – pessoa responsável pela alimentação dos iniciados, enquanto estiverem de obrigação. Lembro-me que quando minha ojubonã – mãe criadora, Ditinha de Iemanjá ia me dar banho, Mãe Joca já estava de pé na beira do fogão. Isso era aproximadamente entre 03h30min e 4 horas da manhã. Pois bem... Após o “gelado” banho de folhas, tia Georgete sempre levava uma porcelana de mingau de acaçá bem quentinho, o que aquecia o corpo na madrugada fria após os banhos. No raiar do sol também levava: chá com pão, biscoitos e frutas. Quando era dia de Bori ou qualquer outro tipo de obrigação que tivesse comida, de dentro do runkó – quarto de Axé, eu ouvia sua voz: “É pra guardar o do iaô!” Dizia também: “Ô menina!? Já separou a do iaô?” E sempre que batia uma fominha era só chamá-la, que prontamente ela providenciava alguma guloseima – obviamente que dentro da dieta do que se pode comer neste período.
Foto: Reprodução
Tive a felicidade em ver Eyin Oxun em terra. Ela era de uma suavidade ao dançar que fazia inveja a qualquer bailarina do Royal Ballet de Londres. Tanto como, Iyákekerê, como, Iyálabaké, tia Georgete cumpriu com todas as determinações de Xangô, onde nas nuances da doçura e amargor que se faz necessário na formação dos mais novos, tia Georgete fez jus ao que lhe foi delegado; acolhendo e ensinando aos mais novos. Sua passagem pelo Opô Afonjá foi de muita fertilidade, onde, a perpetuação do legado se dar pelo nascimento de novos filhos. E durante a sua estada aqui no Aiyê, o Opô Afonjá foi bastante fértil.
Infelizmente em junho de 2008, tia Georgete partiu para o Orun deixando um enorme legado e muita saudade.
Salve tia Georgete de Oxun.