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Após elevar Selic a 14,25% ao ano, BC prevê alta de juros menos intensa em maio

Juros se igualaram ao patamar observado em outubro de 2016

Por FolhaPress
Ás

Atualizado
Após elevar Selic a 14,25% ao ano, BC prevê alta de juros menos intensa em maio

Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil

Depois de elevar a taxa básica de juros (Selic) em um ponto percentual, de 13,25% para 14,25% ao ano, mesmo nível atingido durante a crise do governo de Dilma Rousseff (PT), o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central prevê uma alta de juros menos intensa no mês de maio.

No comunicado, o comitê sinalizou que os juros vão continuar subindo na próxima reunião, em maio, e que pretende fazer uma nova alta de menor intensidade. Apesar da indicação, evitou se comprometer com um ritmo específico de ajuste.

Como justificativa, o colegiado do BC citou a continuidade do "cenário adverso" para a convergência da inflação, a elevada incerteza e as defasagens do efeito da política de juros sobre a economia.

Os juros se igualaram ao patamar observado em outubro de 2016. Na época, também para combater uma inflação resistente, a taxa básica ficou estacionada em 14,25% durante um ano e três meses, a partir do fim de julho de 2015, atravessando o impeachment de Dilma.

O Copom repetiu no texto que a extensão total do ciclo de alta de juros dependerá da evolução da trajetória e das projeções de inflação, das expectativas, do hiato do produto (diferença entre o crescimento potencial da economia e o efetivo) e do balanço de riscos.

O comitê voltou a defender a necessidade de uma política de juros mais contracionista, ou seja, uma atuação que ajude a frear a força da atividade econômica de forma a controlar o avanço da inflação. Na visão do colegiado, o cenário está marcado por nova piora das expectativas, projeções de inflação elevadas, economia ainda forte e pressões no mercado de trabalho.

No cenário de referência do Copom, a projeção de inflação para este ano teve um leve recuo de 5,2% para 5,1%, mas ainda bastante acima do teto da meta. Para o terceiro trimestre de 2026 -período hoje na mira do BC-, a estimativa caiu marginalmente de 4% para 3,9%.

Na segunda reunião sob o comando de Gabriel Galípolo, o Copom cumpriu o choque de juros prometido ainda em dezembro do ano passado, completando três movimentos seguidos de um ponto percentual.

A decisão desta quarta já era dada como certa pelo mercado financeiro. Levantamento feito pela Bloomberg mostrou que a elevação da Selic em um ponto percentual era a projeção unânime de todos os economistas consultados, em linha com a sinalização dada pelo próprio comitê no encontro anterior.

Desde o início do ciclo de alta de juros, em setembro de 2024, já foram cinco aumentos consecutivos. A Selic saiu de 10,5% ao ano e acumula elevação de 3,75 pontos percentuais. Ainda sob a gestão de Roberto Campos Neto no BC, a primeira elevação foi gradual, de 0,25 ponto percentual.

O comitê acelerou o passo pela primeira vez em novembro, com um aumento de 0,5 ponto, e no encontro seguinte, em dezembro, optou por um movimento mais agressivo. Além de subir a Selic em um ponto percentual, prometeu mais duas altas da mesma intensidade nas reuniões seguintes, em janeiro e março. Agora, concretizou a estratégia traçada.

"Esse aumento é para um guidance [orientação] do final do ano passado. O presidente do Banco Central disse em coletiva que o guidance ia ser observado", afirmou o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, dizendo que falaria mais após a divulgação da ata do Copom, na próxima terça-feira (25).

Desde janeiro, houve uma piora adicional nas expectativas de inflação, em especial para 2026. Segundo o último boletim Focus, os analistas esperam que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) termine o próximo ano encostado no teto da meta perseguida pelo BC, em 4,48%.

Para este ano, as estimativas do mercado se afastaram ainda mais do objetivo, passando para 5,66%. O alvo central é 3%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos. Isso significa que a meta é considerada cumprida se oscilar entre 1,5% (piso) e 4,5% (teto).

No radar dos economistas está a preocupação com a política fiscal expansionista do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Em meio à queda de popularidade do presidente, foram apresentadas medidas de estímulo à economia, como o novo consignado privado para trabalhadores do setor privado e a liberação do saldo do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS).

No caso da proposta de ampliação da faixa de isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5.000 por mês, há temor pela resistência do Congresso à proposta de compensação apresentada pelo Executivo de cobrar um imposto mínimo dos ricos.

Sobre a questão fiscal, o colegiado do BC repetiu o texto usado no comunicado de janeiro, dizendo que segue acompanhando "com atenção" os impactos sobre a política monetária. "A percepção dos agentes econômicos sobre o regime fiscal e a sustentabilidade da dívida segue impactando, de forma relevante, os preços de ativos e as expectativas dos agentes", afirmou.

Em paralelo, o cenário é de incerteza no ambiente internacional, com a guerra comercial imposta pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Há dúvidas sobre o efeito das tarifas anunciadas pelo republicano sobre a inflação e a reação do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA), que nesta quarta manteve os juros inalterados no intervalo de 4,25% a 4,50% ao ano.

Para o Copom, o ambiente permanece "desafiador". No comunicado, enfatizou a incerteza acarretada pela política comercial dos EUA, sem citar Trump nominalmente. "O comitê avalia que o cenário externo segue exigindo cautela por parte de países emergentes", disse.

A cotação do dólar usada pelo BC em suas projeções foi de R$ 5,80, o que representa uma redução significativa em relação ao encontro de janeiro, quando a moeda norte-americana estava em R$ 6.

Em relação ao cenário doméstico, o colegiado mencionou que surgiram sinais de "uma incipiente moderação no crescimento" da atividade econômica, mas deu ênfase ao dinamismo do conjunto de indicadores da economia e do mercado de trabalho.

O comportamento da atividade tem sido motivo de cautela. O Produto Interno Bruto (PIB) fechou 2024 com alta de 3,4% no acumulado do ano, mas perdeu ritmo no quarto trimestre, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O comitê não fez alterações no balanço de riscos e continuou vendo mais chance de o IPCA ficar acima do projetado do que abaixo, ou seja, assimétrico para cima.

Entre os fatores que elevariam os preços, citou novamente o risco de as expectativas de inflação seguirem distantes da meta por período mais prolongado, maior resiliência na inflação de serviços e uma conjunção de políticas econômicas externa e interna, como o câmbio mais depreciado de forma persistente.

Entre os elementos que puxariam os preços para baixo, mencionou mais uma vez a possibilidade de desaceleração da economia doméstica mais acentuada e a chance de um cenário menos inflacionário para economias emergentes em função de choques sobre o comércio internacional e sobre as condições financeiras globais.

Devido aos efeitos defasados da política monetária sobre a economia, o BC trabalha agora com a inflação do 3º trimestre de 2026 na mira, conforme o sistema de meta contínua. O comitê é hoje composto majoritariamente por representantes indicados por Lula, com sete dos nove membros. O Copom volta a se reunir nos dias 6 e 7 de maio.

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