Denúncia revela conduta antiética entre Moro e Dallagnol, principais articuladores da Lava Jato
Uma série de matérias com base em mensagens trocadas pelas autoridades foi publicada pelo Intercept Brasil
Foto: Reprodução
Através de denúncia anônima, o site Intercept Brasil teve acesso a documentos trocados através de conversas entre os principais executores da Lava Jato, o então Juiz Federal responsável pela operação, Sérgio Moro, e o procurador de Justiça Deltan Dallagnol. Quatro matérias explorando o material foram publicadas na noite do último domingo, 09.
Na primeira parte da reportagem, o Intercept explica que teve acesso ao conteúdo semanas antes do celular do agora Ministro as Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, ser hackeado. Informam ainda, que o material não foi publicado antes devido a sua extensão.
Através de mensagens via Telegram, as autoridades conversavam e comemorava a iniciativa do Partido Novo em barrar o pedido da Folha de S. Paulo de entrevistar o ex-presidente Lula, preso pela Lava Jato em Curitiba há mais de um ano. O resultado enfraqueceria o então candidato do PT, Fernando Haddad, que disputava as eleições ferrenhamente com o atual presidente Jair Bolsonaro (PSL). Isso coloca em cheque a conduta de Moro e Dallagnol, que se posicionavam a todo tempo como apartidários e que atuavam contra políticos.
Em outro trecho da conversa, Dallagnol aparece questionando as provas que tinham em mãos para apresentar a denúncia do apartamento do Guarujá, que apontam que Lula tenha recebido como propina. Nas palavras do promotor, as provas eram “frágeis”.
Além disso, ainda segundo a reportagem, Moro agia como “conselheiro” de Dallagnol quando dava pistas de como deveria agir para proceder com as denúncias de acusação e alterou a ordem das operações. O intuito era que Lula, à época um dos possíveis candidatos ao pleito com maiores índices de aprovação, fosse excluído das eleições de 2018 e tirasse o PT do poder.
Em nota, o atual Ministro da Justiça e da Segurança Pública Sérgio Moro, questionou a fonte que passou as informações de suas conversas e disse que aceitou com estranheza o fato do conteúdo ter sido vazado justamente após o seu celular ser hackeado.
“Quanto ao conteúdo das mensagens que me citam, não se vislumbra qualquer anormalidade ou direcionamento da atuação enquanto magistrado, apesar de terem sido retiradas de contexto e do sensacionalismo das matérias, que ignoram o gigantesco esquema de corrupção revelado pela Operação Lava Jato”, diz a nota.
A força-tarefa da Lava Jato, também por meio de nota, questionou a veracidade das informações apresentadas pelo site e disse que “seus membros foram vítimas de ação criminosa de um hacker que praticou os mais graves ataques à atividade do Ministério Público, à vida privada e à segurança de seus integrantes”.
A nota ainda diz que as informações foram extraídas com base no celular de um dos agentes da força-tarefa e que foram “ultrapassados todos os limites de respeito às instituições e às autoridades constituídas na República”, e que, por serem amigos, trocam brincadeiras e desabafos. Por conta disso, “muitas conversas, sem o devido contexto, podem dar margem para interpretações equivocadas. A força-tarefa lamenta profundamente pelo desconforto daqueles que eventualmente tenham se sentido atingidos”.
Em nota divulgada através do Partido dos Trabalhadores, o advogado Cristiano Zanin informa que a troca de mensagens publicada ontem pelo Intercept prova aquilo que os advogados de Lula já haviam protocolado na justiça: “que na Operação Lava Jato houve uma atuação combinada entre os procuradores e o ex-juiz Sérgio Moro com o objetivo pré-estabelecido e com clara motivação política, de processar, condenar e retirar a liberdade do ex-Presidente Luiz Inácio Lula da Silva”.
Zanin fecha a nota dizendo que “é a manipulação das leis e dos procedimentos jurídicos para fins de perseguição política”.
O presidente Jair Bolsonaro ainda não se manifestou sobre o assunto.
